Tuesday, April 24, 2007

Questão de didática

Segundo Lula, “é melhor transportar aluno do que Fernandinho Beira-Mar”. A frase saiu em meio a discurso realizado em Brasília. O presidente refutou a proposta de redução da maioridade penal e alegou ser mais barato construir escolas do que presídios. Lula defendeu ainda investimentos em educação, finalizando que as crianças precisam de oportunidade, carinho e amor. Não esqueceu de reforçar a promessa de equipar todas as escolas públicas do país com computador e internet. A eloqüência do presidente incluiu ainda ironias como: “então, vamos começar a punir as crianças desde já, antes que virem bandidos”.

Com certeza é mais barato construir escolas no Brasil do que presídios. Não poderia ser diferente. O ensino público brasileiro é um dos piores do mundo. A maioria dos alunos chega ao final do Ensino Fundamental sem a compreensão do que lê, ou seja, com idades por volta dos 14 anos são analfabetos funcionais. Manter e inchar um sistema de tão baixa qualidade não deve custar muito.

Por outro lado, presídios continuam entupidos de gente, com métodos didáticos muito mais eficientes do que a rede de ensino público brasileira, capazes de transformar qualquer ladrão de galinhas em bandido de alta periculosidade. Chamar isso de prisão é exagero. O Brasil já conta com uma população de meio milhão de foragidos. Está mais do que provada a ineficácia das jaulas brasileiras.

Falar de oportunidade, carinho e amor pra esses filhos do descaso chega a ser deboche. Pensar que o ensino público vai garantir o futuro dessas crianças é puro populismo. É burrice encher de computadores escolas que pagam salários de fome a professores que mal sabem ligar essas máquinas. Assim como é ignorar que desde já essa geração de miseráveis está sendo punida. Não com a cadeia e sim com a certeza de que a escola pública brasileira não só não tem forças para mudar esse destino trágico, como também é parte essencial do problema.

Tuesday, April 17, 2007

Argumentos

Talvez só alguma baixaria em tempos de Big Brother dê mais audiência do que a causa do aquecimento global. Subitamente, as pessoas ficaram boazinhas com o planeta até então confundido com lata de lixo. Multinacionais compensam o estrago que fazem plantando árvores. Combustíveis alternativos, como o álcool, se tornam bandeira de salvação. Desfiles de moda lançam coleções inteiramente feitas com material reciclado.

Isso não é ruim. Mas a tese que sustenta tanta boa vontade é fraca. Até agora, o principal argumento é que nossa espécie está ameaçada com essa história toda. Provavelmente está.

Na verdade, essa preocupação surgiu por motivos mais escusos. Com o calorão crescente, bons negócios estão em risco. Simples assim. É questão econômica. Não ambiental, moral ou científica.

Essa mania de apelar para a consciência do ser humano até funciona, mas por pouco tempo. Questões assim precisam ser encaradas da maneira mais efetiva. Basta apelar para o que move pessoas capazes de fazer algo relevante para mudar situações como essa, sejam elas dotadas de senso moral ou não.

Por isso, mesmo diante do pavor diante do termômetro, não consigo ter maiores temores. O aquecimento global não causa apenas a destruição de ecossistemas, sofrimento de populações costeiras ou verões insuportáveis. Aquecimento global causa prejuízos e isso sim é inadmissível para qualquer homo sapiens.