Thursday, December 21, 2006

Fica para a próxima

Eu deveria estar aqui falando sobre o piercing da Karina Bacchi - o piercing mais comentado desse país. Deveria estar descorrendo sobre como o mundo das significações é responsável por preconceitos que rotulam pessoas em função daquilo que elas usam e do que as identifica. Deveria estar dizendo que tudo isso tem grande chance de condizer com a realidade dos fatos e que normalmente ao menos parte do que se acredita acaba por ser verdade. Eu deveria estar fazendo um post engraçadinho e cheio de piadas baratas que eu, do alto da minha pretensão, costumo acreditar que faz as pessoas (ou possíveis leitores) rirem.

Mas, ao contrário de tudo isso e repetindo meu último post, não vou seguir por esse caminho, porém, por um motivo menos filosófico do que o anterior. Estou sem cabeça para escrever sobre o tema, para concluir o texto já iniciado. Coisas mais importantes povoam meu espírito e me fazem crer que, ao contrário do que dizem, o homem não é um eterno insatisfeito. Seria muito simples colocar a coisa dessa maneira.

O homem apenas vive seu sonho de de aproveitar as opções que a vida põe em seu caminho. São tantos os caminhos percorridos, são tantos os percalços enfrentados, são tantas inenarráveis e inestimáveis experiências. São tantas escolhas, tantos ganhos, tantas renúncias e, ainda assim, tantos caminhos a serem traçados.

Será pecado, será muito difícil, será crime querer colocar seus principais sonhos (poucos que sejam) reunidos numa única vida?

Feliz Natal a todos.

Tuesday, December 19, 2006

Monstros

Tempos atrás, os monstros eram os maiores causadores da insônia infantil. Sua lenda era proporcional ao medo que causavam nas mentes pouco vividas. Eram figuras como o velho do saco, o bicho-papão, as bruxas das mais variadas especificações... além desses, existia também o lado mais artístico da família do mal, com Freddy Krueger, Jason e ainda outros de menor envergadura como o Zé do Caixão. Guarda-roupas abertos se tornavam portais para as trevas, das quais emergiam os temidos seres, movendo-se entre as sombras, sedentos por pequenos pés que eventualmente ficassem descobertos pelo edredom.

A reação aos demoníacos invasores começava pelo rosto escondido debaixo das cobertas. Se isso não fosse suficiente, o abajur era ligado instantaneamente e, se mesmo assim, essas armas poderosas falhassem, bastava juntar as mãos e lembrar daquela oração difícil de decorar: o Pai Nosso. Quando o pavor atingia seu grau máximo, sempre restava a fortaleza final, o quarto dos pais, lá nenhum dos inimigos tinha a coragem de entrar.

Entre os anseios infantis para se livrar desse medo, tinha lugar especial a idealização da vida adulta, como uma libertação final daquele terror inexplicável. O tempo passa, a terra gira em volta do sol apenas algumas vezes mais e lá está ela. A maturidade chega e fica claro que existiam problemas maiores na vida do que o tema de casa. Os monstros vão se tornando uma piada diante do desemprego, da violência e da miséria, ou seja, a realidade finalmente é apresentada sem rodeios à outrora ingênua criança.

Com alguma persistência, é possível continuar olhando, quando necessário, nos olhos dessa senhora horrorosa chamada realidade. Porém, quando dois bandidos, da mais desprezível espécie, queimam viva uma família inteira e destróem com crueldade absurda os sonhos do pequeno Vinícius, de apenas cinco anos de idade, é impossível continuar a ser adulto. O terror inexplicável da infância retorna, mas dessa vez não há artifícios contra o mal. Os pais tampouco podem fazer algo, seu medo é tão grande quanto o dos filhos. Isso por uma simples razão: nesses dias ambos são forçados a acreditar em algo muito pior do que monstros: a maldade humana.

Wednesday, December 13, 2006

A limonada

Tem dias em que a vida realmente apresenta as surpresas mais variadas para a gente.
Terça-feira da semana passada, à tarde, eu me vi em uma situação tão incomum, que fiquei pensando no quanto é imprevisível o dia de amanhã.

Estávamos eu e uma colega no aeroporto, prontas para pegar um vôo para São Paulo às 13 horas. Estávamos indo para tentar agilizar um trabalho gigantesco, cujo prazo já estava se esgotando. Ou seja, uma operação emergencial. Só que nenhuma das duas imaginava que justo aquele dia, uma terça-feira comum, sem nada de especial, seria o pior dia da crise dos aeroportos até então.

Passamos nada menos do que 3 horas e 15 minutos dentro de um avião estacionado no pátio, até nos darmos conta de que aquele vôo - e nenhum outro - sairia do aeroporto naquele dia. Decidirmos então abandonar nossa missão, voltar para a agência e partir para o "Plano B". Mas o atraso em si não foi o que fez a diferença no nosso dia. Foi o que nós fizemos com esse tempo livre "compulsório" dentro do avião.

Poderíamos ter deixado a ansiedade e o stress nos enlouquecerem, poderíamos ter ficado histéricas, mandado as aeromoças enfiarem os copinhos de suco de laranja você-sabe-onde, tentado enforcar o piloto - já que ele abriu a cabine à visitação. Mas ao invés disso, nós resolvemos pegar os limões daquele dia e fazer uma limonada. Usamos aquelas três horas e quinze minutos para olhar com calma e assinalar alterações no trabalho sem ninguém atrapalhar, sem telefone tocando.

Conversamos sobre nossas vidas, sobre o que gostávamos e odiávamos, sobre as relações no trabalho, sobre detalhes bobos de nossas personalidades. E, entre uma comunicação e outra do piloto sobre o atraso, ficamos refletindo sobre o quanto era inusitado almoçarmos dentro de um avião, em terra. Isso nunca mais vai acontecer. Foi um evento único. E eventos únicos, sejam eles bons ou ruins, sempre trazem algum aprendizado. No mínimo viram histórias para a gente contar para os outros depois.

Se não tivéssemos passado essa tarde no avião, por exemplo, talvez nunca tivéssemos tido a oportunidade de trabalhar juntas tão tranqüilamente e nem de conversar amenidades que nos tornariam mais próximas, como aconteceu. Nunca saberíamos que existe um tal de "avião-laboratório", que sobrevoa a região para testar se as freqüências estão funcionando em caso de panes como essa do Cindacta de Brasília. Ou presenciar o chamado "vôo de misericórdia", de um avião que transportava órgãos vitais para transplante em São Paulo e que teve uma tripulação corajosa o suficiente para decolar antes de o "avião-laboratório" dizer se era seguro ou não.

Nada disso irá se repetir nas nossas vidas e, neste caso específico, não aconteceu nada de tão fantástico que merecesse uma repetição. Mas foi um momento significativo a ponto de nos fazer pensar sobre o quanto o nosso repertório mental e emocional pode se expandir e se converter em crescimento pessoal se estivermos abertos a extrair o valor de cada momento, mesmo que pareça um momento banal e estúpido como um atraso de avião.

Foto: criançada fazendo sua própria" limonadinha" na cabine do piloto, que estava aberta à visitação. Eu também fui lá fazer a minha, hehehe...

Tuesday, December 12, 2006

Indiciados

Quando brasileiro fica incomodado com festa, tire as crianças da sala, que não vem boa coisa. A gandaia em questão é a festa de boas-vindas proporcionada por parentes e amigos de Jan Lepore e Joe Paladino, os pilotos do Legacy que se chocou contra o fatídico vôo 1907. Na falta de assunto melhor, o fato ocupou as manchetes gringas e tupiniquins, com imagens de muitos sorrisos e altas doses de patriotismo em solo americano. Toda essa bobagem teve como fundo o saguão do aeroporto em que desembarcavam os dois festejados cidadãos.

Muitos brasileiros ficaram revoltados com o episódio, um suposto descaso com a tragédia alheia. Mas não é pra tanto. Em meio à comemoração, os gringos foram capazes de lembrar da tragédia. As 154 vítimas foram homenageadas e receberam, cada uma, em média, quase quatro décimos de segundo de silêncio, totalizando um minuto. Para um desastre fora das fronteiras americanas, sem que um gringo sequer figurasse entre as vítimas, dá pra considerar uma senhora homenagem.

Outros patriotas verde-amarelos justificaram sua fúria alegando uma estranha familiaridade no riso solto dos pilotos na ocasião. Afinal, horas antes, ambos estavam na Polícia Federal prestando depoimento, no qual, por sinal, se recusaram a falar. Pelo visto, os americanos andaram assistindo à TV Senado a fim de pegar o jeitinho brasileiro de se livrar de encrencas. Britney Spears no Maracanã, Mc Donald’s em toda esquina e Bush abrançando o Lula são absurdos toleráveis. Já passar a perna na nossa lei, ainda por cima com as nossas táticas, é uma afronta imperdoável.

Até o momento não há nenhuma conclusão oficial sobre as causas do desastre. Isso não impediu que os dois pilotos fossem indiciados no artigo 261, combinado com os artigos 263 e 258, ou seja, “expor a perigo embarcação ou aeronave”, de maneira culposa. Após 70 dias de investigação, os resultados do delito de ambos são claros. O país vive a interminável crise dos controladores de vôo, vieram a público as condições precárias da monitoração e dos equipamentos utilizados, ficou evidenciada a diminuição da verba do setor para 2007 e foi revelada a veia dramática do ministro da Defesa, Waldir Pires.

Ficou bem baratinha a conta dos pilotos diante do tamanho do estrago causado. “Expor a perigo embarcação ou aeronave” não é bem a acusação apropriada. Talvez seja necessária uma pequena alteração na lei a fim de acomodar algo como “expor ao ridículo uma nação”. O único problema seria acomodar tanta gente que já fez e faz por merecer esse indiciamento. Claro, isso se o Brasil for considerado uma nação de verdade...

Thursday, December 07, 2006

Algo muito pessoal

Eu juro que o tema de hoje seria outro, o tema estava borbulhando na minha cabeça, cheio de tiradas bacanas e piadas engraçadinhas - pretensioso eu, não acha? - mas não deu. Todo o meu plano de falar tratar com deboches e chistes a futilidade alheia, que marca a total superficialidade que marca o mundo de hoje foi por água abaixo no momento que eu decidi ouvir aquela música, aquela banda.

“There's an old pair of sneakers dangling from a wire
And my old rusty engine is in need of some brand new tires”


Acho interessante a relação que as pessoas mantém com a música. Tudo é muito individual, cada um tem a sua vida, o seu agora ou nunca e dá o valor que acha justo – o que, na verdade, torna qualquer discussão sobre qualidade musical algo estúpido e egocentrista, que no final das contas, termina no “ah... mas eu gosto disso e não gosto daquilo.”

“There's a warm breeze that's blowing as the shadows go tumbling by
And it's picking up sand, and that must be what's in my eye”


Muita gente curte música só pra dançar e se deixar levar pelo ritmo, não se apegando tanto à músicos, letras e mesmo às próprias músicas. Para essas pessoas, música é momento, é feita para divertir, é poeira ao vento. Outros tantos, a avaliam pela poesia, pela profundidade do que ela transmite enquanto mensagem numa garrafa e mesmo pela forma como expressa em palavras e em som (em menor grau) um sentimento individual, que, supõe-se, tem a mesma natureza do que elas sentem quando a ouvem.

“Forever young. Time on my side. We’ve got tomorrow. We’ve got tonight
Two hungry hearts out on the run, we'll always be forever young”


Apesar de ser influenciado por ritmos, poesia e por estilos, minha relação com a música, tem uma outra natureza. Me relaciono com a música pelo que ela representa para mim, enquanto parte da minha própria história. Mais do que combinações de sons e palavras, que podem ou não dizer alguma coisa, as músicas, as minhas músicas me aproximam e reavivem na minha memória e na minha alma momentos que vivi. São pequenos frascos de realidade vivida que me dão em doses leves e breves o direito de reviver antigas sensações que estavam guardadas em alguma num canto escuro, úmido e cheio de traças da minha essência e que o tumulto do dia a dia acaba por zipar.

“If I only had the wings to fly, leave the chains of love below
Take my heart up in the sky, I would never let you go”


Com algumas, revivo os dias gloriosos em que conheci Tatiana. Outras me trazem cenas de Paula e Danielle dançando nas noites de sábado. Algumas bem específicas – e que, confesso, não seriam da minha discografia se não representassem tanto – me retiram da poltrona num dia de domingo e me recolocam no carro da bichona do André, com Alexandre, Dudu, Godinho, Marina, Dani, Maíra, Wawá, Christiano e tantos outros escroques que dividiram comigo aqueles dias que nossos pais diziam que seriam os melhores de nossas vidas. Juninho e a parceria que nos fez irmãos, se não se sangue, mas de histórias e afinidades. Histórias que trazem Gustavo e Emir e a irmandade tão firme e segura quando o curso de um rio. Yoko e momentos em que éramos próximos como jamais fomos novamente. Shows de Fábio com a Orion, de Ramon com a Homo Sapiens ou ao lado de Andrei e os The Feitos.

“No more people to hold me down, fight the ghost in my home town
All the walls will crumble down”


Canções que conduziram as minhas mais remotas lembranças, que me fazem voltar à minha infância e reviver os dias que era apenas um menino superprotegido pelos meus pais, que rezava para o trovão e para a chuva serem silenciosos e me deixarem em paz. Uma criança sem tantas responsabilidades, com o conforto, segurança e amor que um dia quero poder dar para os meus filhos. As galeras do colégio, da rua, as festas, as viagens e tanta gente foda...

“My head says, we should always go our own ways, never get too close
When she can hear my heart, if she comes apart, I'll be waiting”


Momentos sozinho, deitado no meu quarto escuro, com a janela aberta, a brisa batendo e só as luzes da rua iluminando as paredes. Pensando na vida, me preparando para algo importante, lembrando de coisas, viajando em pensamentos, passando por mudanças, esvaziando a cabeça, curtindo fossa, tendo idéias, curtindo momentos, acreditando, mantendo a fé, me partindo em pedaços, amaldiçoando ocasiões em que parece que mesmo seus amigos parecem estar lá para te ferir, planejando o futuro, idealizando relações, fantasiando namoros, desenhando abordagens, remoendo angústias e amores desperdiçados numa carência desesperada, dando vazão às tristezas, deixando fluir, curtindo conquistas ou simplesmente ouvindo música. No ônibus, no carro, na fazenda, na night, no clube ou no mais amplo espaço que uma pessoa pode residir, um espaço sem fronteiras, onde as ruas não têm nome e que reside na imensidão dos meus pensamentos.

“And sail away, we may not ever be coming back this way
Sail away, another place to be, another day”

É bem verdade aquele postulado da filosofia que diz que tudo que sei é que nada sei. Tão verdadeiro é a sua derivação, que diz que um indivíduo tem um conhecimento muito pequeno de si mesmo. Eu concordo. Me conheço muito pouco. Mas é através da música e das lembranças que elas trazem à tona que me aproximo de quem sou e de me definir. Não com palavras, mas com puras sensações. E quem precisa de palavras numa hora dessas?

Tuesday, December 05, 2006

Sobre governantes e carros

O carro mais vendido de todos os tempos, com mais de 21 milhões de unidades comercializadas, é fruto de um sonho. Um governante idealizava um carro barato e econômico, acessível à boa parte da população de seu país. Visionário, ele enxergava um país dinâmico e poderoso, no qual o tal carrinho seria a ferramenta essencial de todo trabalhador em seu cotidiano. Foram apresentados ao chefe da nação diversos projetos, rejeitados um após o outro. Os motivos para as negativas eram variados: preço alto, consumo elevado ou falta de segurança.

Essa novela durou três anos, ao final dos quais surgia um carro extremamente barato, econômico e seguro. O preocupado governante se encarregou pessoalmente de inclusive obrigar seus soldados a testarem os 30 primeiros veículos. Em apenas três meses, foram rodados mais de dois milhões de quilômetros. Para completar, o primeiro esboço de um consórcio foi criado na época para facilitar ainda mais a aquisição do automóvel.

O lançamento foi um sucesso, o carro fez a alegria de pais de família de toda a nação. Só na inauguração da fábrica de montagem, 70 mil delirantes cidadãos saudavam o seu líder e o lançamento do carro do povo (significado literal do nome de batismo do veículo). O país viveu um período de imensa riqueza e prosperidade, no qual o Fusca sim, o querido Fusca, era o principal símbolo.

O sonho do governante não acabou em 1938, com a interrupção da produção do carro, a fim de permitir a montagem de veículos de guerra. Acabou apenas em 1945, com o suicídio do estimado líder: Adolf Hitler.

Por isso, a imagem de um governante com manias de grandeza, Hugo Chávez, dirigindo um Fusquinha, com uma multidão entorpecida gritando seu nome ao fundo, não pode ser um bom sinal.

Monday, December 04, 2006

Ciúme de si mesmo

Uma amiga minha tem um namorado bem ciumento. Mas desses sujeitos ciumentos mesmo, que faz a expressão “ter ciúmes da própria sombra” não ser bem uma metáfora.

Ela começou a perceber que a coisa era séria quando estavam em uma festa e ele insistiu que ela fosse até um espelho arrumar o cabelo só para que ele pudesse fazer suas necessidades tranqüilamente, sem a preocupação de deixá-la sozinha na pista. Nem o argumento de que ela estaria dançando com uma amiga dele serviu – afinal de contas, quem disse que ela não topava meninos e meninas?

Se conversavam em um restaurante e seus olhos desviavam, acompanhando algum vulto que se movia atrás do namorado, ele deferia: “o que foi? Gostou do cara de blusa listrada? Vai lá com ele, então.” Se comentava que havia ido à praia com alguma amiga, o tempo logo fechava. Sem perceber, numa acelerada, ela já estava em frente ao portão de seu prédio, ele com um clima “sem comentários”. No dia seguinte, tudo parecia normal.

Minha amiga, que não compreendia muito essas demonstrações de ciúmes, oscilava entre achar romântico, até bonitinho, e sentir-se objeto de depósito da patologia alheia – que há muito havia saído do controle. A última que ela me contou chega a envolver com sua lógica toda particular.

Estavam os dois no maior clima de amor, quando ele pede que ela não dê “mole” para mais ninguém. Ela, como que pisando em terreno minado – coisa que habituou a fazer desde que ficaram juntos –, perguntou genuinamente para quem ela havia “dado mole”. Ele, na lata: “para mim”. Aqui convém reproduzir o diálogo.

- Eu não dei mole para você!
- Ah, não? Veio me perguntar sobre seu mapa-astral na festa em que a gente se conheceu, fiquei até sem graça.
- Eu não “dei mole”, só estava conversando, normal.
- Ah, aquilo é o seu normal?
- Você é astrólogo, não podia conversar com você e perguntar sobre meu mapa-astral?
- Você não me conhecia! Por que conversar com um cara se não tava dando mole?
- Porque tinham me dito que você era legal e eu nunca entendi direito essa história de ascendente... O que é mesmo? É o que eu vim buscar no mundo, não é isso?
- Não muda de assunto não. Você deu mole pro cara!
- Que cara? Era você!
- Ah, então deu mole, né? Assumiu! (como se a tivesse pego em flagrante)
- Já disse que não queria nada com você, gosto de conversar com as pessoas.
- Quer dizer que você conversa daquele jeito com qualquer um? Bom saber...
- Tá bom, eu tinha te achado interessante, mas não queria nada contigo ainda. Só queria...
- Saber da sua casa 8 em Júpiter, né? Já sei, eu lembro do seu mapa.
- Era contigo que eu tava conversando, qual é o problema?
- Era comigo, mas podia não ter sido. Você não conhecia o cara e tava dando o maior mole para ele! (realmente irritado)
- Mas era você!
- Não era não. Não ainda. Era um cara qualquer.

Será que o problema era imaginar a mulher amada tomando a iniciativa em relação a uma pessoa qualquer, ou será que Groucho Marx e Woody Allen tinham razão? Será que o ciúme do namorado de minha amiga residia na falta de crença em um clube que aceitasse ele próprio como sócio? Vai entender...

Sunday, December 03, 2006

o surto da calcinha (da madrugada de sábado para domingo)



agora é moda. a mulherada adora sair de casa sem calcinha e mostrar a periquita para quem quiser. quer dizer, para os fotógrafos. daí os jornais vão lá e metem tarja nelas. é isso aí: Big Brother B...

mas o pior não é a espetacularização da genitália. pensando bem, será que não é buzz marketing? claro, deve ser coisa da Victoria Secret ou alguma dessas marcas do mundo globalizado que exploram o tal do capitalismo com produtos para a proteção da região pubiana. Tem fotógrafo vivendo só disso agora: um click e uma surpresa.

Imagine se fosse da modelo aquela que morreu feita em osso. Não ia ter o que fotografar: "Modelo sai sem calcinha e mostra o fêmur". é isso aí, viva a Filosofia do Silicone: nada embaixo com tudo em cima!

Thursday, November 30, 2006

Nos acréscimos

Era uma tarde chuvosa de terça-feira. Teria tudo para ser um diazinho mahomenos, mas era um daqueles dias em que você chega no seu trabalho com um cérebro e sai de lá com um caroço de azeitona no lugar.

Entre e-mails e contatos telefônicos com clientes internos e fornecedores externos, toca o celular. Olhos fixos na tela do micro, celular no ouvido e um "Alô". Do outro lado, a resposta que ninguém quer ouvir num momento turbulento como esse:

- Alô. Boa tarde. É o senhor Leonardo?!

[O mau dos serviços de telemarketing é a total falta de critério para fazer as malditas ligações. Vejam bem, terça-feira, 15h, O que faz vagabundo pensar que um sujeito economicamente produtivo tem tempo para receber ligações que se dedicam a compelí-lo a gastar dinheiro com serviços totalmente dispensáveis? Outro horário que essa mulherada adora ligar é as 9h da manhã de sábado!!!! Porra! Confesso que estive prestes a sugerir ao Governo do Estado do Rio de Janeiro a criação de uma divisão BOPE especializada prevenir crimes contra o sono e em exterminar operadoras de telemarketing!]

- Aqui é Fulana do Banco Scranckers. O senhor pode falar agora ou está ocupado?
- Estou ocupado. Estou no meio do meu expediente.
- Ah sim... Então, estamos ligando para...

[Ué?! Mas eu não disse que estava ocupado? Não fez a menor diferença!!!! Se eu tivesse respondido "Banana" ela diria exatamente a mesma coisa.]

Bom... nos 10 minutos que se seguiram, ela procurou, em linhas gerais, me apresentar as vantagens que o meu novo cartão de crédito, fruto de um upgrade automático, me ofereceria. Do lado de cá, com o telefone apoiado entre a orelha e o ombro direitos, me dedicava a responder no a-hãnês, enquanto fazia meu trabalho.

O novo cartão me permitiria o ingresso num programa de bônus - daqueles que você gasta, gasta, gasta e gasta e troca seus 2.970.650 pontos por um daqueles pacotes de amendoin que você come de grátis em qualquer vôo Gol e ainda reclama - e me traria uma série de benefícios que "o senhor não pode perder, não é, senhor Leonardo?" - a-hã.

- Senhor Leonardo, o senhor aceita o cartão?
- A-hã.
- Então aguarde alguns instantes até que nosso supervisor venha pessoalmente conversar com o senhor.

Loading... Muitos minutos se passaram até que eu desliguei a porra do telefone. Essa coisa de apoiar o telefone no ombro estava me rendendo o apelido de Frei Damião. Não demorou e ela me ligou novamente.

- Senhor Leonardo, é a Fulana do Banco Scranckes, tudo bem? Acho que caiu a ligação, não é?
- Não. Eu desliguei porque preciso trabalhar. Não posso falar agora. Me liga depois.
- Não... peraí, rapidinho [momento “descendo do salto alto”]. O supervisor já vem.
- Passar bem.
- Não! FULANO!! ANDA LOGO, QUE EU TO PERDENDO O HOMI!!!!

[??????????????????????????????????????????? O homi?! E o Prêmio Luiz Paretto de perdeção de linha em ambiente telefônico na categoria telemarketing ativo vai para...]

Esbaforido, o jovem supervisor chega ao telefone e confirma meus dados de recebimento, como de praxe. De â-hã em a-hã, a gente ia indo, para tornar a coisa mais ágil. Terminadas as confirmações, volta a ligação para a jovem:

- Então é isso, senhor Leonardo. Confirmados os dados, agora só me resta o senhor confirmar a aquisição do serviço. Vou ler e no final, o senhor me confirma, ok? O senhor está tendo o prazer de adquirir em sua residência dois cartões de crédito Scranckers, dentro do programa Super Scranckers de Bônus. Um para o senhor e um para a sua esposa...

- AAAAAAAALOW!!!!!! PODE PARAR AÍ MESMO!!! Tu ta querendo me fazer perder dinheiro?! Bebeu?!

Finalmente ela conseguiu a minha atenção. Gente, essa pessoa acabou de dar uma aula de como desperdiçar uma oportunidade de negócio no último instante possível. É como participar do Programa Silvio Santos, ser chamado por ele para aquela brincadeira do PIN, contar certinho até o 39, estar com o automóvel zerinho nas suas mãos e dizer QUARENTA, ao invés do PIN!

Bom, eu gritei tanto com a mulher, que consegui, pela primeira vez na história, fazer um operador de telemarketing bater o telefone na minha cara.

Confesso que me orgulho disso até hoje.

Wednesday, November 29, 2006

Não saia com ele

Um grupo de mulheres está causando uma revolução no universo masculino com a criação do site “Não saia com ele” (http://naosaiacomele.com). A página é um tipo de lista negra de tipos não-recomendáveis a um relacionamento decente e maduro. Entre os denunciados estão conquistadores que não ligam no dia seguinte, ciumentos patológicos, traidores seriais e mesmo rapazes que, até então, estavam escondidos no armário.

Obviamente, o objetivo é atingir o mundo das cuecas mortalmente, mas dificilmente isso vai acontecer. O tal site é uma mera reprodução do comportamento que guia a espécie há milênios. Nenhum cara liga pra sua suposta capacidade de ser um canalha. Tanto que conta para meio mundo seu escore entre quatro paredes e suas falcatruas. O incrível é que agora as mulheres começam a corroborar essa mesma pontuação. E os cestinhas vão cada vez contando mais vantagens.

Por trás de toda essa suposta indignação está o mito que fascina boa parte das mulheres: o do macho dominante, aquele por quem todas as fêmeas do grupo caem de amores. Ele pode ser o maior safado que já habitou a terra, mas enquanto está com ela é o homem dos sonhos. E não interessa que este tempo costume durar, segundo estudos científicos, em média 47,89 minutos.

Enquanto isso, os caras que mandam rosas, fazem canções apaixonadas e dizem “eu te amo” olhando no olho, visitam o tal site nas noites solitárias de sábado e se perguntam o que está errado. No momento em que decidem tunar seu carro, ouvir Latino a todo volume, agarrar tudo que use calcinhas ou tomar umas bombas para ficar mais sarado, algo acontece. As criadoras do site atingem em parte seu objetivo: acabam com mais um homem. Mas não um pertencente às linhas inimigas e sim um dos poucos que poderia gostar de verdade delas.

Saturday, November 25, 2006

Fetiche do Loirão

Trago da infância o medo da Cuca, da bruxa de verruga no nariz e da minha versão para aquela música “era uma casa muito engraçada...”, que para mim se localizava na Rua dos Lobos, um lugar sombrio de minha imaginação. Hoje, no entanto, um novo personagem passou a habitar meus pesadelos, e nem sei ao certo o que a respeito dele me assusta.

Por cerca de dois meses saí com um cara – um cara “com referência”, como uma amiga costuma falar. Logo de início soube que ele estava de mudança marcada para a Europa, mas resolvi deixar a vida me levar. É claro que a dita cuja me levou diretamente para o tal rapaz. Saímos várias vezes até que, quando percebi, já conhecíamos família, casa, amigos, falávamos por telefone como antibiótico, três vezes ao dia, e o assunto da viagem para a terra de Bono Vox nunca era tema de conversa.

No meio desse – na falta de outra palavra, vá lá – namoro, cheguei a pensar em indagar o rapaz sobre seus planos de tornar-se pastor de ovelhas ou terrorista católico em uma ilha fria, mas adiei. Semanas se passaram, até que nos vemos numa sexta-feira, juntos, na Casa da Matriz. Nós, nossos amigos, um programa normal. Num dado momento, ele anunciou que iria ao segundo andar com seu amigo. Nada mais normal, eu havia acabado de borboletear com minha companheira. Por coincidência, resolvemos subir logo depois. Ao chegarmos à outra pista de dança, deparamo-nos com ele aos beijos com uma mulher loira - não que, até então, isso fizesse alguma diferença.

Em direção à saída, atordoada com o que tinha visto, resolvi voltar e dar-lhe o crédito da dúvida. Dirigi-me a ele – a essa altura, já sentado com o braço ao redor de sua nova conquista – e, incrédula, perguntei: “você está ficando com ela?”. Ao que, sem se mexer, respondeu que sim. Nunca saí tão rapidamente de um lugar.

Nessa história toda, foi a reação do tal rapaz o que mais me intrigou, parecia tomado por uma inércia estranha. Não se importou em dar satisfação, desculpar-se. Chegou a me procurar, insistentemente, com telefonemas, flores e pedidos de outra chance, mas não tinha noção real da bizarrice de seu feito. Para ele – acho – era inevitável, praticamente uma obrigação, render-se ao ataque na pista escura. Afinal, ele é jovem, estava de viagem marcada, despedia-se do Rio com toda uma vida pela frente, devia mais é aproveitar o momento... Ou, como resumiu de maneira mesmo ingênua à minha amiga e defensora, “foi o fetiche do Loirão”.

Muito bem, que um ser humano tenha preferência por pessoas com cabelo de cor clara, eu posso compreender. Até sua falta de educação e de respeito não me incomodaram tanto. O que realmente me fez perder o sono foi a sensação de que tudo aquilo era normal. Tempo depois, acusou-me de parecer não me importar com sua partida. Então, fui eu a culpada, seja por ter sido muito confiante ou apenas conformada. Fato é que, entre a mulher neurótica e a segura que eu poderia ter sido – e, acreditem, podemos ser as duas facilmente – ele ficou com o “fetiche”. De feitiço, objeto inanimado ou parte do corpo a que se atribui poder sobrenatural. Não há dúvida, “enfeitiçado” o sujeito não é responsável por suas ações. A escolha de tal palavra parece dizer mais de um momento do que de uma pessoa apenas, e essa apatia me assusta ainda mais do que o próprio “Loirão”. Para isso, não há tinta colorante que dê jeito.

Friday, November 24, 2006

O chifre virou problema de Estado (e Santo Antônio casa e levanta a auto-estima)

O que chamou atenção esta semana não foi a anoréxica cobertura que a mídia realizou da morte da modelo-saco-de-osso Ana não-sei-das-quantas. (Ela ficou até mais famosa do que era antes. Se ressuscitasse, seria em grande estilo. Afinal, não é qualquer defunto que aparece na imprensa com um modelito assinado por Giorgio Armani. Até Jesus só apareceu enrolado num pedaço de pano).

O destaque desta semana vai para a Câmara Municipal de Novo Santo Antônio, interior do Mato Grosso. Em março, eles aprovaram uma lei que manda a prefeitura distribuir estimulantes sexuais para homens com mais de 60 anos. Chegamos, finalmente, no extremo das políticas públicas. Desde o Bráulio do governo federal, é a melhor iniciativa de política pública que esse país já viu no ramo da sexualidade.

O assunto veio à tona esta semana por causa de uma mudança que as esposas dos velhinhos querem fazer na lei. Ao invés deles, elas querem ter o direito de buscar os remedinhos. Isso porque os vovôs estão retirando o brinquedo e levando as raparigas mais novas para passear no parque. Safadeza não tem idade. E daí chifre vira problema de Estado. Se virar moda, daí eu quero ver a justiça funcionar. É por isso que os magistrados querem aumento. Além de consolo judicial, tem que dar um jeito de arranjar consolo sexual (de terceira idade).

Coitada das velhinhas. Elas não merecem. Por isso, lanço aqui uma campanha a favor delas. Sugiro que o Dráuzio Varella, nosso amigo do Fantástico e que agora só fala do pessoal de idade avançada, lance uma sessão cupido no quadro dele. Já pensou: Velhinhas trocadas pelo Viagra querem ter acesso. Inclusão social! Ninguém quer fazer isso com elas! É sempre a galera da terceira idade que se ferra.

Porque não, uma reforma na previdência. Todas as velhinhas do Brasil deveriam ter o direito de resgatar o fundo. Cartão do Bom Cidadão: passa o cartão e tira o fundo. As velhinhas vão sair do fundo.

Por obsequio: olha aqui. Fez efeito até nos USA.

Thursday, November 23, 2006

O paradoxo da não adaptação

Vou lhe fazer uma pergunta e peço que você responda – mas responda mentalmente, caso contrário neguinho pode te mandar para um hospício por falar com um computador: quando você era criança, te contaram a história da formiga e da cigarra?

Eu sei... a resposta é sim. Essa é mais uma daquelas histórias doutrinantes, que buscam moldar as crianças dentro de um comportamento padronizado. Ao contrário do que normalmente se interpreta, o princípio de que o trabalho dignifica o homem não é o centro da moral. A questão toda está representada na figura da formiga e sua dedicação mecanicista no sentido de manter a ordem e a estrutura sobre a qual está montado todo o sistema de abastecimento de sua comunidade e que, por conseqüência, condiciona a sobrevivência de todos por lá. Ou seja, a moral é: ou você se enquadra ou, cedo ou tarde, vai acabar se fudendo.

Mas como impingir as regras de comportamento de uma formiga à realidade de uma cigarra? Essa é a questão que fica. De fato, a não-adaptação é um lance meio complicado e, normalmente, vagabundo sofre conseqüências por viver, ou melhor, ser compelido pela sua a essência/história a viver segundo outras regras. Mas qual é o mal disso, se ele está preparado e disposto a pagar o preço?

Contada sob o olhar da cigarra, a história toma contornos diferentes. Ao contrário da formiga, que vive segundo os desígnios do dever, a cigarra vive segundo o existir, o experimentar, o viver em si. Para ela, os mecanicismos do mundo funcional não funcionam e toda sua inquietação se encarrega da re-significação do mundo de normalidades cegas, segundo o seu olhar, sua sensibilidade. O mundo, que na mão da formiga se torna função, fazendo melhor a vida de todos – inclusive a da cigarra – na mão da cigarra, vira poesia.

Ela não queria se adaptar, aceitar cegamente aquilo que as regras estabelecidas a impunha porque deixaria de lado a essência do que ela era. Experimentou o que quis, no momento em que quis. Praticou o sexo, drogas e rock and roll com pulgas e percevejos – para quem compôs canções únicas, que Gilliard, evidentemente, interpretou como barulho digno de Baygon – viveu intensamente da caridade de quem a detestava, buscando todo amor que houvesse nessa vida. Morreu tão intensamente quanto viveu, nos acúmulos de seus erros e acertos, os quais estarão sujeitos ao julgamento de todos, mas e daí?

O resultado disso, sustentado numa sensibilidade única de uma vida louca vida, foram canções que ainda hoje embalam e geram significação para jovens formigas que vivem a idade da inconseqüência, da irresponsabilidade e que praticam o Rebel Yell.

Vida boa ou ruim eu não sei e não me sinto capaz de julgar. Somente bato palmas para as formigas que enxergaram além dos excessos e das idéias pré-concebidas sobre as cigarras e para as cigarras que vêem nas formigas e suas obras muito mais do que simples exemplos de uma vida mal conduzida, segundo a burocracia mecanicista.

Tuesday, November 14, 2006

Quarenta quilos

Quarenta quilos distribuídos em um metro e 74 centímetros de altura. Este era o ideal de beleza de Ana Carolina Reston, de 21 anos, morta nesta terça-feira por inanição. Sim, você leu certo, a modelo paulista morreu de fome. Há poucos dias, Carol ainda desfilava sua beleza quase fúnebre pelas passarelas do mundo inteiro. Países como China, Turquia e Japão, por exemplo, eram o palco de seus elegantes passos. No entanto, apesar das andanças internacionais de Ana Carolina, o Brasil foi o altar onde o mundo da moda a imolou como um aviso das exigências para a temporada 2007.

O Brasil é uma potência na exportação de beleza, a maioria das top-models da atualidade é daqui. A profissão começa cedo, é comum meninas de 13 ou até 12 anos já desfilando e aprendendo a fechar a boca para se enquadrar nos rigorosos parâmetros do meio. O que começa com dietas malucas acaba se tornando uma negação permanente em se deliciar com qualquer alimento que seja. A partir de certo ponto, a pessoa passa a sentir aversão à comida, inclusive, vomitando o pouco que consegue consumir.

Ana Carolina se achava feia pelas supostas gordurinhas que teria a mais. A questão não é se havia gordurinhas a mais, nem se a modelo sofria de algum distúrbio (com certeza, sofria). Muita gente vai dizer (sem qualquer senso de sensibilidade) que faltaram umas boas palmadas. Tolice. Realmente falta disciplinar nossas crianças, mas não só elas.

É hora de ensinar e aprender o significado da fome, nem que seja de maneira infantil e simplória. Passar fome é feio, é horrível. Morrer de fome é inaceitável, é desumano. Talvez assim a feiúra da fome, presente nos traços de um rosto perfeito no outdoor da esquina ou no braço esquelético do menino de rua que nos pede um trocado na mesma esquina, deixará de ser algo normal e até belo para os brasileiros.

Thursday, November 09, 2006

A superficialidade da gostosura

Outro dia, estávamos eu e minha mulher no carro, voltando das compras e papeando trivialidades. Cena típica do jovem casal de classe média, sem filhos e com muito por construir e tal. A coisa transcorria dentro de uma certa normalidade quando, não mais do que de repente, ela vira-se pra mim e me pergunta: “Amore, o que é uma mulher gostosa?!”

A nossa sorte é que ela vinha dirigindo. Se eu estou no volante, não precisava nem ter carro por perto que eu acabaria encontrando alguma coisa para bater, tal foi o grau de atordoamento que me tomou naquele instante. É aquela coisa “Pô... legal essa música”, “semana que vem vence o aluguel”, “ih... ta com cara de que vem chuva”, “o que é uma mulher gostosa?”. Tum! Silêncio... olhos esbugalhados, boca seca e um hesitoso: Hein?!

O interessante é que na mesma semana, no trabalho, o mesmo tema veio à tona, mas de outro jeito. “Vocês acham fulana gostosa?! Mas ela é tão bagaceira!!!”, “Beltrana também?! Pô... mas aquilo é de silicone!!”, “Pô... fala sério que vocês acham Aquelazinha gostosa! Ela é mulher de pagodeiro-traficante!”

Meninas, quando um sujeito diz que uma mulher é gostosa não leva em conta antecedentes criminais, o número de cirurgias pelas quais ela passou, tampouco sua bagagem cultural e bons modos. Ninguém faz uma análise antropo-psico-sócio-cultural, baseada em Baudrillard e Morin, para definir esse tipo de coisa. O conceito de mulher gostosa é tão raso quanto um peitinho antes da turbinada, tão superficial quanto tudo o que vocês vêem nessas mulheres aí e até por isso confere. A profundidade é analisada sob um prisma muito mais mundano, por assim dizer. Gostosura um conceito puramente estético e funcional, formas e estruturas. A mulher gostosa é sinuosa, tem curvas e tem sustância. Coxas grossas, peitos firmes, bunda carnuda e em pé, muito ziriguidum e bucomufo no catelefôfo. E é isso.

Num segundo nível, características como personalidade, auto-confiança, presença e sorriso ordinário (quanto mais, melhor) potencializam ainda mais o quadro, mas são totalmente dispensáveis numa avaliação inicial. A beleza ajuda muito na diferenciação e no estabelecimento de graus de atratibilidade, mas também não é pré-requisito básico. Isso, é claro, para poder te definir alguma coisa, porque normalmente tudo o que o cara precisa para classificar uma mulher como gostosa é o instinto. Bate o olho e diz: mmm... mas é gostosa!

Fica muito mais fácil de entender se a gente pensar no conceito real da palavra "gostosa". Levando pro lado gastronômico, uma comida gostosa é aquela que tem bom sabor e pronto. O problema é que mulher se preocupa demais com teor calórico, níveis de açúcar, valor nutricional e demais "feminilismos" que se perdem naquilo que deveria ser tão básico. Mulher não reconhece o conceito de "gostosa", porque só enxerga a "gostosura trans".

Dei essa explicação para a patroa e, para minha surpresa, ela passou o resto do trajeto me apontando mulheres gostosas para ver se conferia. Passou no teste com louvor. Está preparada para comentar a mulherada comigo na rua. Isso é o que eu chamo de relacionamento maduro.

Complicado vai ser se ela começar a virar a cabeça para manjar a bunda das mulheres que vêm na contra-mão. Pra isso, definitivamente, eu não estou preparado.

Tuesday, November 07, 2006

Tudo ou nada

Em reportagem da semana passada, a revista Veja declarou a morte do rock. Claro que isso é dito há algumas décadas, a cada vez que alguma modinha musical ganha algum destaque.

Mas sou obrigado a concordar. Após ter heróis da estirpe de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jonh Lennon correndo em suas veias, o rock foi envenenado pela multiplicidade de organismos estranhos em sua corrente sanguínea. Toda tralha sonora é chamada de rock nesses dias carentes de harmonia e repletos de barulho.

Rock não pode jamais ser tudo, como muitos costumam acreditar. Suas bases foram construídas sobre o nada. Quando nada mais restava, quando a família não dava a mínima, quando a humilhação era rotina na escola ou quando nenhuma mulher notava sua existência, um garoto maluco juntava um bando de infelizes e descarregava sua frustração em canções geniais.

O coração vazio de cada um daqueles doidos se tranformava na caixa onde ressonavam melodias vigorosas, com letras que falavam o que não podia ser dito. E nós éramos abançoados. Nada era melhor do que se encerrar no quarto e ouvir aquele nada em estado bruto encher nosso espírito, fazendo nosso traseiro deixar a cama e viver ao estilo mais rock'n'roll que poderia haver.

As coisas agora são mais simples, a rebeldia não é mais exclusividade dos astros. Qualquer guri ou guria se expressa com rebeldia, já começando pelo desafio aos próprios olhos, sempre tapados pela cabeleira lambida que cobre quase a cara toda. As marcas dessa geração são feitas na pele, já que deixar marcas na vida é algo fora de cogitação. A profundidade de pensamento e os questionamentos dizem respeito apenas à escolha da roupa mais provocante, do celular mais entupido de funções ou do barzinho mais "in" da cidade.

Acompanhando essa rebeldia com código de barras, as bandas vão e vêm, preservando o ar derrotista que sopra desde o último suspiro de Kurt Cobain. Recentemente, pra piorar, o tal Emo se manifestou como uma praga, mas o veneno contra ele foi absorvido pelas gravadoras e pelos adolescentes cada vez mais bundões de hoje.

Pensar no que o rock significou um dia para mim não faz mais qualquer sentido, me rendi ao novo rock. Na era em que o rock é tudo, ou tudo é rock, tudo que o rock de hoje faz é me manter assim, sem fazer nada. Não poderia haver atestado de óbito maior.

Thursday, November 02, 2006

Evoluindo?

Eu queria ter vivido as décadas de 60 e 70, mas quando me dei conta de que tinha pernas e de que babar em mim mesmo era vergonhoso já estávamos nos anos 80 - a última grande década até agora. Se você é daqueles que discorda de mim e chama a década de 80 de anos perdidos, foda-se. Eu não pedi a sua opinião, pedi? Aliás... quer pergunta mais sessentista do que essa última?

Aquelas foram as duas últimas décadas românticas da história da humanidade. O clima de tensão latente na geo-política internacional foi responsável por um cenário sócio-cultural interessantíssimo e muito variado.

Os Stones surgiram como reflexo de uma juventude que finalmente começava a buscar a sua liberdade e a se explorar, enquanto questionava os dogmas estabelecidos pela moralidade. Os movimentos negros dos EUA, além dos discursos de Martin Luther King, nos deram a Motown Records. Os hippies chegaram ao auge com Woodstock e revelaram ao mundo que a mulherada quer mais é dar, mostrar as peitolas e suar feito animais, porque o sexo escorregadio é mais gostoso mesmo. Na Europa, a cultura punk ganhava seus contornos mais radicais com o Sex Pistols e seus cuspes na coroa da rainha.

Por aqui, Elis, Caetano, Chico, Tropicália e o resto da galera que não tomava banho faziam seu papel, contestando através da música. Estudantes entravam na porrada, por levantarem a voz contra o governo, contra o fato dos meios de comunicação do país serem um monopólio de oito famílias (na época isso ainda era novidade) e pelos direitos civis, violentados em nome da "segurança nacional". O que é isso, companheiro?! Lula ainda trabalhava, não fazia a barba, não sabia ler e ainda era um simples líder sindical cheio de sonhos para um país coberto em desmandos.

Hoje tudo isso acabou. Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, vivemos a chatice da calmaria da falta de grandes objetivos, ao som de Jorges Vercillos e de um Michael Jackson branco. O cabelo black power deu lugar à oleosidade asquerosa dos EMOs, as hippies não mostram mais as peitchangas, não querem saber de sexo e assumiram um tom meio blasé, mas usam produtos Natura porque é socialmente responsável e seguram a onda de um banho não tomado. Lula virou presidente, a geração cara-pintada ainda acha que fez história, e os comunistas de hoje são essas malas sem alça, mas com lenço e documento, que ainda pensam, agem e falam em democratização dos meios de comunicação como falavam os seus pais. Aliás, ta afim de jogar o RPG dos Anos Rebeldes com a galera da UNE?

Definitivamente eu nasci na década errada, mas ao menos eu sei disso. Se você não sabe e vier me chamar de companheiro, serei obrigado a cometer uma deselegância.

Wednesday, November 01, 2006

Transtorno de quê???

A cada dia que passa, os cientistas especializados em transtornos psiquiátricos apresentam novos nomes para definir os mais estranhos comportamentos dos seres humanos. Não importa classe social, sexo, raça, idade, nada. Qualquer comportamento esquisito, fora dos padrões e – principalmente – repetitivo pode vir a enquadrar você, caro leitor do Boca, como portador de uma síndrome bizarra.

Só para ilustrar alguns comportamentos que se converteram em síndromes e transtornos nos últimos tempos, vamos citar alguns exemplos: aquele pirralho malcriado, mimado, sem-educação, verdadeiro projeto de vândalo, mas com inteligência suficiente para fazer pais e professores de trouxas pode acabar sendo classificado como portador de Distúrbio de Déficit de Atenção ou portador de Distúrbio de Hiperatividade. E ele pode mesmo sofrer desses distúrbios, claro!... Ou ser simplesmente uma peste de temperamento diabólico cujos pais terão a felicidade de poder socar tranqüilizantes e antidepressivos sem se sentirem culpados.

Aquela guria chata, cheia de manias, supersticiosa, medrosa e de imaginação fértil na verdade pode ser portadora de Transtorno Obsessivo-Compulsivo... ou pode ser simplesmente uma pentelha histérica e carente que encontrou uma ótima desculpa para ter que ser aturada pela família e pelos amigos sem questionamentos.

Mas o mais novo transtorno psiquiátrico revelado pelos cientistas, e que eu descobri lendo uma matéria no blog da revista Cláudia na semana passada, sem dúvida é o mais incrível de todos: a "feiúra imaginária".

A "feiúra imaginária", cujo nome científico é TDC – Transtorno Dismórfico Corporal – é um distúrbio que faz a pessoa enxergar no próprio corpo defeitos que não existem. Isso cria uma compulsão por cirurgias plásticas que, mesmo feitas repetidamente, nunca satisfazem as expectativas dos portadores de TDC. Logicamente, as mulheres são as maiores vítimas dessa moléstia psíquica.

Bizarro ou não, o fato é que esses distúrbios, transtornos ou síndromes nascem de comportamentos inocentes do dia-a-dia. Uma pequena mania, se reforçada, pode ir ganhando corpo até virar um monstro que descontrola toda a química cerebral e faz com que qualquer pessoa comum se transforme num Michael Jackson da vida. Ainda mais no Brasil, onde entrar na faca para caber num jeans 36 ou num sutiã 52 se transformou num procedimento banal e quase que obrigatório para as mulheres.

É por essas e outras, caro leitor do Boca, que é melhor não se importar tanto com seus pneus, sua muxibinhas, seu nariz de porquinho, sua corcunda, sua bunda murcha, suas verrugas, suas celulites, suas carecas lustrosas. Se preocupar demais com essas coisas pode acabar levando você a ficar maluco de verdade, tomando remédio e carregando um rótulo mais esquisito do que qualquer suposto defeito que o seu corpo tenha.

Michael Jackson que o diga!

Tuesday, October 31, 2006

75 centavos

Como todo estagiário, sou um habitante daquele limbo trabalhista que não me dá direito a certas regalias que todo funcionário recebe. Uma das conseqüências de ser um espectro corporativo é ter que pagar todos os dias pelo estacionamento. O valor do dito cujo é de absurdos R$ 2,75. Naturalmente, sempre pago com R$ 3 ou um pouco mais, valores temidos pela simpática atendente da empresa que administra o estacionamento. Seu nervosismo é notável, a falta de troco parece ser uma situação corriqueira, não importando quantos quilos de moedas tenham abastecido logo pela manhã o quiosque fashion da menina.

Mas a funcionária é uma trabalhadora de fé, por semanas a fio pude comprovar sua inabalável crença no mito do valor exato no bolso de cada usuário. Todos os dias, ao pagar o estacionamento, eu ouvia da crédula e alegre jovem: “Você teria 75 centavos?”. E eu nunca tinha, ou melhor, até tinha algumas vezes, mas minha disposição em catar as benditas moedas sempre era menor que minha pressa. A atendente até tentava aliviar a coisa pro meu lado, dizendo que 25 centavos já ajudariam bastante, mesmo assim, foram raras as vezes em que atendi seu pedido. Isso durou meses.

Semana passada algo aconteceu. No lugar da alegre saudação e das curtas e fúteis conversas, apenas um boa tarde sem graça. Minhas surradas notas de um real foram friamente recebidas. O troco, uma mísera moeda, veio de maneira automática. Ao invés de ser levemente deixada em minhas mãos, a moeda foi simplesmente empurrada por debaixo do vidro, quase rachado pelo vento ártico vindo do olhar descrente da outrora simpática atendente. E a pergunta não veio, apenas um singelo “obrigada”.

Desde então, tenho feito um esforço sobre-humano para trazer todos os dias exatamente o valor do estacionamento, mas não adianta. Não há mais clima. Mais uma pessoa deixou de acreditar em mim. Tudo por causa de míseras moedinhas. Por isso não entendo como milhões de reais roubados, dossiês falsos, dólares na cueca e outras maracutaias mais não fazem qualquer diferença. As pessoas ainda acreditam.

Thursday, October 26, 2006

A nata da mallandragem

Semanas atrás, descorri aqui sobre o caso do chimpanzé anabolizado e seu primeiro filme pornô co-estrelado por um traveco, que, segundo uma opinião feminina (elas não entendem nada) é praticamente uma mulher. Na ocasião, fiquei de contar a história da Mallandrinha que só topava com o namorado. Se vocês não se lembram disso, eu lembro.

Sérgio Mallandro teve grande talento e tato para escolher aquelas que seriam as principais atrações do seu programa (ou alguém aqui acha mesmo que eram as pegadinhas que davam ibope?). Ele formou um time de mulheres com belo traço de gostosura adquirido a base de muita academia e aditivos estáticos - corpos somente encontrados em profissionais do ramo (você sabe bem qual). O programa não durou tanto assim, mas esta jovem, em específico, soube aproveitar seu tempo de estrelato no programa e nas páginas de revistas masculinas e voltou cheia de moral para o seu ramo de origem.

Conhecida e cobiçada por marmanjos libidinosos de todo o país, a jovem logo foi procurada por uma produtora de filmes pornôs para estrelar uma de suas jóias. Numa dessas tentativas, ainda que relutante, ela aceitou, porém com uma ressalva: "Só trepo se for com meu namorado".

É nesse momento que a gente vê o lado mais humano da quenga. Por mais que vendam seu corpo por dinheiro e prazer, quenga também tem sentimentos, também tem seus medos e suas travas. "Como assim, dar para um desconhecido?! Que coisa mais sem pé nem cabeça!". Ter o seu namorado como co-protagonista num vídeo de sacanagem desqualificaria a putaria, tornaria a coisa uma simples exposição de um momento de cópula amorosa de um casal apaixonado. Isso é nobre, isso é bonito, é o lado mais puro da piranha.

Com toda a repercussão que a Mallandrinha vinha tendo em meio aos principais punheteiros deste país, a produtora resolveu bancar a empreitada nas condições impostas por ela. Só que nem tudo na vida de uma profissional do séquisso é orgasmo. Por mais gostosa que seja, ela também tem seus dias de coitos interrompidos e ejaculações precoces. O tão importante namorado não quis expor sua intimidade, o que decepcionou a todos. Menos a ela.

Como toda boa profissional do amor, a nossa heroína utilizou todo o seu jogo de cintura, fruto de anos(us) de prática, e convidou seu outro namorado. Problema resolvido, filme gravado, distribuído e muito provavelmente se você, punheteiro, procurar no Google vai encontrar algum MPG perdido por aí.

Curiosidade ou não, o estepe para ocasiões especiais tornou-se o namorado oficial, empresário, co-protagonista em suas produções e provavelmente ainda tira uma comissão por fora por cada filme fechado. O outro dançou e já deve ter prestado várias homenagens ao vídeo da ex com aquele que evidentemente já o corneava de longa data.

Numa próxima ocasião, o caso do símbolo sexual que nunca foi lá muito chegada a sexo.

Tuesday, October 24, 2006

Anomalias

Dança no Gelo se tornou uma atração de sucesso na Rede Globo ao apresentar os “famosos” aprendendo a dançar na pista abaixo de zero. Fausto Silva, com o cinismo que lhe é típico, exalta os esforços que garantem as apresentações de qualidade dos convidados. O desempenho realmente é bastante surpreendente, porém, as lesões, tombos e trapalhadas durante os ensaios ganham destaque em meio à ladainha do apresentador.

A histeria do público poderia ser entendida como resultado das belas coreografias apresentadas, porém, uma análise mais profunda detectaria ali mais uma manifestação do fenômeno olha-lá-mesmo-sendo-os-bons-eles-fazem-bobagem. A anomalia é antiga, seus primeiros registros datam do descobrimento da terrinha. Estudiosos dizem que a grande atração do povo indígena era se reunir à beira da praia para debochar dos portugueses que acreditavam estar descobrindo o país do futuro.

O fenômeno evoluiu e resultou em outras variações como a cópula-Cicarelli ou a dança da pizza. O estudo da bizarra manifestação atestou que sua eficácia obedece a três fatores básicos: o tamanho do fiasco, a livre vontade de cometê-lo e, mais importante, a capacidade de parecer que foi sem querer. Para bem ou mal da nação, isso não falha.

Exemplos? Vamos lá. O imenso fiasco de ser uma nação de analfabetos funcionais foi causado por inúmeros erro e políticas educacionais equivocadas. É uma situação muito cômoda manter as massas afundadas na ignorância, mas em qualquer discurso governista (seja o governo que for) você pode verificar o clima geral de que foi sem querer ter chegado a tal ponto.

Nos lares verde-amarelos a situação não é diferente. Pais passam cada vez mais vergonha com filhos abusados, sem qualquer educação ou respeito. Porém, a disputa entre o cômodo descaso e a educação correta dos filhos é uma lavada a favor do primeiro. No entanto, é comum ouvir por aí a célebre frase: “Não sei o que deu errado, ele sempre recebeu o melhor”.

O caso dos dançarinos de baixa temperatura à primeira vista é mais um da série. O suposto fiasco é em rede nacional, no programa de maior audiência no horário. Os participantes fazem de tudo para estar lá, eles de fato querem passar por aquilo tudo. E, para completar a tríade, aparentemente sem querer, eles caem, se machucam e até chegam a se lesionar com seriedade.

Mas essa é uma leitura errada. Esse já é um sintoma de outra manifestação: a artística. O sucesso do programa consiste em justamente mostrar (sem querer) que não existe fiasco no sacrifício e no esforço, nem vergonha na força de vontade e que a vitória só ocorre quando se quer muito. Quem dera cada brasileiro fosse contagiado ao menos uma vez na vida pelos sintomas da arte. Quem dera o público assistisse ao programa exclusivamente pela beleza daquele espetáculo. Na falta disso, a sede por sangue da audiência até pode ser aceita, desde que desperte a sede pela arte.

Thursday, October 19, 2006

Ladies First

Dias atrás, num desses papos entre camaradas comunicadores não comunistas, veio à tona a seguinte questão: quando se fala em sociedade capitalista, o que primeiro vêm à sua cabeça? Enquanto você vai pensando nas explicações que te levaram a pensar na Coca-Cola em primeiro lugar, deixe-me colocar a minha visão a respeito.

Somente duas coisas me passaram pela cabeça diante dessa questão e em segundo lugar estaria a referida e incontestável Coca-Cola. O meu Top of Mind dessa categoria é algo que pode parecer polêmico, mas que, ao meu ver, é indiscutível o fato de que nada é tão representativo da sociedade de consumo quanto a mulher.

A mulher é a mola mestra que impulsiona o sistema, sem a qual ele estaria completamente falido. Eu estou pessoalmente convencido de que essa conversa de emancipação feminina foi a saída de um economista muito sagaz - a quem hoje eu chamo de "meu ídolo" - para aumentar o potencial de vendas de sua empresa e reduzir o rombo que a véia insuportável, a quem costumava chamar de sua esposa, provocava em seu bolso. A mulher no mercado de trabalho, ganhando e, principalmente, gastando o seu dinheiro é a grande sacada do capitalismo atual e a maior benesse que baixou sobre nossos dias.

Benesse sim, vejam o cenário: sem a mulher, Fidel seria o principal líder mundial, Mão Tse-tung estaria no lugar da Estátua da Liberdade, Chê Guevara daria lugar ao Tio Sam nas estampas das camisas, Lula seria um sujeito tão feliz quanto confuso, uma vez que precisaria enfim entender o que é o socialismo, e a Gillete estaria em apuros, já que, a começar por Marx, comunistas parecem ter problemas graves com a idéia de fazer a barba. Um cenário que, além de hediondo, nos conduz à lógica conclusão de que Heloísa Helena é a personificação do paradoxo universal.

Bom... o cenário estava montado, o capitalismo já tinha descoberto sua musa, mas o destino se encarregou do golpe final: fez com que Top 1 e Top 2 se cruzassem num desses bares de esquina da vida. Tudo começou numa monótona tarde chuvosa de terça-feira, quando um cientísta de produtos da Coca-Cola, no auge da sua falta do que fazer, vira para o outro e diz que é capaz de tirar o gosto da bebida, torná-la uma verdadeira merda e ainda assim, o produto ser um sucesso de vendas. O segundo aceitou o desafio: estava criada a Diet Coke, que mais tarde veio a se chamar Coca Light e mais, criou todo esse inferno de linhas de produtos light que invade nossas geladeiras e tiram o sabor da vida, só por causa da neura dessa mulherada que SEMPRE está "precisando emagrecer"!!!!!

Para piorar a situação, semana passada a BBC Brasil anunciou que outro desocupado da Coca-Cola criou um refrigerante que vai muito além da redução dos valores calóricos. A empresa jura que o consumo de 3 latas da nova bebida queima 100 calorias, o equivalente a uma maçã. A parada vai ser lançada em novembro e, com ela, a Coca-Cola impulsiona não somente as suas vendas, como também todo o mercado de freezers e geladeiras, porque, pode ter certeza que a sua casa vai precisar de mais uma só para as latinhas. Só espero que você seja macho suficiente para dizer que a grana para o freezer e para as latinhas vão sair do cartão de crédito dela!!!

Wednesday, October 18, 2006

Comece a namorar em 5 minutos

Acabo de ver na internet um banner que chamou minha atenção: “Comece a namorar em 5 minutos”. Tudo bem, os tempos são de mudanças, tudo é muito rápido e “moderno”, (moderno é a coisa mais antiquada a ser dita, desculpem a terminologia), mas impressiona ler um anúncio desses. A lógica que gera anúncios bizarros como o que vi acima não é de todo tão absurda. Já vi simpatia, orgulho, coragem e paixão serem vendidos como acessórios de um produto inspirador como um creme de barbear. Entendo os motivos dos anunciantes, mas o produto deles é tão ruim assim pra embutir tanta fantasia junto?

Pode ser um nivelamento por baixo, são poucos os anúncios que não prometem o mundo a seus pés, até um chiclete pode se tornar uma arma de sedução infalível. Praticamos perigosamente uma política de substituição de sentimentos, não compramos mais apenas produtos ou serviços, mas sim sentimentos e emoções, em falta no mercado real, mas sobrando no mercado publicitário. Gostaria de saber a partir de quando essa negociação passou a ser possível. A indústria estimula esse comportamento e engorda o monstro regado a sonhos e aspirações perfeitas.

O poder embutido nos produtos foi tanto que hoje começa a ser vendido separadamente. O melhor de tudo é que os sentimentos e emoções ganharam o mesmo formato consagrado que ajuda a vender desde refrigerantes até apartamentos. As leis de mercado enfim se aplicam aos sentimentos, as possibilidades são imensas! Nunca houve tamanha carência de toque, sentimento, carinho, mas também nunca as pessoas tiveram tantas possibilidades de gastar, embora com o tempo cada vez mais reduzido. Sem intermediações, sem investimentos demorados, você informa sua necessidade, outra pessoa informa a dela e em 5 minutos vocês estão namorando.

É muito prático, como em uma tabela, você procura um perfil, lá escolhe idade, renda, cor de pele, peso, cabelos e até a personalidade da pessoa pretendida. Na visão dos modernosos internautas, todo o processo de conhecer alguém, ouvir, entender a pessoa era algo obviamente desnecessário. Ali, na tela, com alguns cliques, está tudo que você precisa saber. Imagine a riqueza de uma relação assim, nada de erros de avaliação, nenhuma chance de se apaixonar pela pessoa errada.

E seu coração, já está ao alcance de um clique?

Monday, October 16, 2006

Ressaca política

Tenho que confessar que todo esse blá-blá-blá sobre os candidatos à Presidência da República – revelações sobre roubalheiras, estratégias de campanha, pesquisas, alianças, farsas, sujeiras – tem me dado tanto enjôo, que estou pensando seriamente em tomar Plasil antes de assistir ao noticiário.

No meio de toda essa bizarrice de terem elegido o Clodovil e reelegido o Maluf e o Collor (inacreditável!), pelo menos uma boa notícia veio aliviar o meu sofrido estômago de eleitora: a bancada evangélica no Congresso Nacional diminuiu!

Aleluia, irmãos!

Ao que tudo indica, depois de os meios de comunicação terem revelado a grande quantidade de evangélicos envolvidos no esquema do mensalão, dos sanguessugas e até na máfia das ambulâncias, os chefões das poderosíssimas potências espirituais neopentecostais andaram vetando a tentativa de reeleição de alguns de seus pastores aspirantes a cargos públicos.

Ainda assim, alguns gatos pingados se aventuraram, testando a falta de memória do brasileiro e a fé cega que alguns fiéis poderiam ter. Deram com os burros n'água – pelo menos a maior parte deles.

Teria sido isso fruto de uma conscientização do eleitorado de que religião e política são, assim como vodka e cerveja, coisas que não se deve misturar, nem tomando um Engov antes e outro depois?

Não sei. Mas que essa notícia funcionou como um antiácido para a minha ressaca política, funcionou!

Wednesday, October 11, 2006

Lógica

Por que incluir e ser solidário são questões de resposta fácil. Infinitamente mais difícil é entender por que excluir e ser indiferente.

Sob um viés econômico, só há vantagens em tirar cada vez mais pessoas da faixa de miséria. Quanto maior o mercado consumidor, maior a riqueza da nação e, conseqüentemente, a de cada cidadão, inclusive você.

Na perspectiva social, as vantagens são ainda maiores, o custo brasileiro para manter cada preso é de R$ 700 por mês. Uma cesta básica, capaz de alimentar tranqüilamente uma família como a do referido presidiário, custa R$ 400. Teria sido bem mais inteligente garantir ao menos a alimentação das famílias desse povo antes que o crime aparecesse como sua única oportunidade de encher a barriga. Considerando os milhares de detentos do sistema prisional do país a economia seria da ordem de milhões de reais. Uma economia que poderia propiciar uma queda de impostos bastante interessante para seu bolso.

Considerando o lado profissional, ajudar os outros é um ótimo negócio, hoje em dia pega superbem. Empresas de renome dão preferência de contratação a pessoas que prestam trabalho voluntário. Quem sabe não é esta sua chance de conseguir um empregão?

Já sob o aspecto humanista, um país com menos mazelas sociais teria grandes chances de ser considerado uma nação de Primeiro Mundo. O Brasil enfim contaria com uma injeção poderosa de capital estrangeiro, você seria enfim um cidadão de primeira classe, cheio de novíssimos dólares no bolso. Seria o fim das revistas humilhantes que você é obrigado a aceitar cada vez que desembarca em um país deslumbrante. Seria outra história, você deixaria de ser um mísero cidadão do Terceiro Mundo.

Analisando geneticamente, você é 99,9% igual a qualquer pessoa no mundo, por que excluir alguém tão parecido assim com você? Se você dá tanta atenção à aparência, talvez sua semelhança com um camundongo (98%) ou chimpanzé (99%) seja mais forte. Talvez, exatamente como os bichinhos, você escolha se relacionar com os outros apenas por meio de seus critérios mais primitivos e bestiais.

A cultura da solidariedade e da inclusão é questão de absoluta lógica. Ate mesmo quando motivada pelas mesmas razões absurdas que causam a exclusão e a indiferença.

Friday, October 06, 2006

Papo entre amigos - ou falando de sacanagem

É consenso. Uma das poucas verdades universais de fato sustentáveis nesta existência porca diz que uma descompromissada e despretensiosa roda de amigos gera papos interessantíssimos, desestressa, recarrega as energias, renova o sujeito e blá, blá, blá . Ponto pacífico, novidade nenhuma. Agora tente imaginar as possibilidades e a escatologia latente num papo entre amigos numa mesa de bar, quando numa das quatro cadeiras está sentada uma profissional de um dos principais canais premiere de entretenimento adulto da TV fechada brasileira. Sim, é uma mulher. Não, ela não é piranha, é jornalista.

Entre verdadeiros interrogatórios no esquema "É piranha ou não é?", no qual questionávamos sobre o verdadeiro foco profissional de personalidades femininas de pouco conteúdo, formas parnasianas e trilhas de sucesso relâmpago, e joguetes do tipo "Quanto vale o show?", quando deveríamos adivinhar o preço do programa, descobrimos coisas interessantes, que destilaremos a conta-gotas aqui neste espaço virtual para não esgotarmos tão curioso acervo em apenas um grande post de histórias e análises resumidas.

Começaremos, pois, com a nova do Alexandre Frota. O cara está cada vez mais à vontade nesse meio e a cada filme ele se mostra ainda mais versátil. Depois de estrear, causar frisson no cenário pornô nacional e fincar definitivamente suas patas na indústria através de uma série de filmes, sua próxima aventura sexual será co-estrelada por um travesti. Olha que bonito... tudo pela arte!

Eu to falando que essa porra de anabol em excesso tem efeitos colaterais seríssimos e curiosamente, todos ligados ao pinto. Sério... sempre que alguém te diz para não usar anabol, o primeiro alerta é: “olha rapaz... tu vai acabar ficando brocha”. Pelo visto, o problema não é exatamente a impotência, mas a total autonomia que o consumo excessivo do composto parece dar ao membro. O cara levanta quando quer e agora se descobriu que ele levanta para quem quer, ou seja, o grande mal do sujeito anabolizado é se ver refém dos mandos e desmandos de uma glande emancipada! Daqui a pouco nego está comendo cachorro, pato, borboleta, cartela da megasena e o que encontrar pela rua. É um perigo.

“Ah... mas é uma mulher. Se você vir, se espanta”, diz ela. Pode parar!!!! Mulher uma vírgula, literalmente. Não dá nem para entrar no ramo do “praticamente”. Tenha santa paciência.

Por outro lado, é de se louvar (ainda não defini se a palavra mais correta não seria "espantar") a disposição e o valor do referido traveco - cujo nome não revelarei no sentido de não particularizar o valor artístico-sociológico de toda essa espécie para este segmento da indústria cinematográfica - uma vez que não é todo mundo que está disposto a liberar o brioco para um chimpanzé enriquecido a base de Sustagem e esteróides fazer misérias, única e exclusivamente em nome da arte proibida. Zoofilia não é para qualquer um – a menos que este um consuma anabolizantes esteróides.

Não me perguntem o nome do filme, porque eu mesmo não sei, mas se você se interessa por esse gênero cinematográfico, se liga porque daqui a pouco a Internet se encarrega de te dar todas as informações.

Em breve, a história da recatada ex-malandrinha que só estrela filmes X se for na companhia do namorado.

Tuesday, October 03, 2006

Cacareco

Em 1959, o rinocerante Cacareco ficou famoso no país inteiro ao ser “eleito” deputado graças à sua expressiva votação. Desde então, surgiu o voto-cacareco, uma forma de deboche ou protesto contra a situação política do país. Os eleitores continuaram bem humorados nas eleições seguintes e deram votações expressivas a figuras como o pseudo-herói Chapolin ou a personalidades do reino animal que se destacavam de vez em quando. A farra correu solta até a implantação do voto eletrônico, cobrindo a totalidade do território brasileiro desde 2000.

O trânsito livre de bobagens propiciado pela cédula de papel foi substituído pela carranca dos dígitos, intolerantes com qualquer gracinha. Apesar das novas limitações humorísticas, o eleitor continuou improvisando para fazer valer o seu protesto, seu bom humor ou a sua simples burrice. Você já deve conhecer os mais novos membros de nossa classe política: Clodovil, Mano Changes e Paulo Borges, só pra ficar nos top-top.

O processo democrático brasileiro falha justamente ao tentar conferir uma aura de seriedade ao que é tratado pela população com escárnio, descrédito ou ignorância. No lugar de urnas eletrônicas, tragam de volta as cédulas de papel, dessa vez com espaço adequado para a criatividade do brasileiro. Ao invés de debates supostamente imparciais, promovam um Big Brother com os admiráveis concorrentes aos cargos. No lugar de campanhas de conscientização sobre o voto, realizem novelinhas contando a trajetória de cada candidato.

E, se algum animal for eleito, dêem a ele os quatros anos a que tem direito. Quer dizer, isso vocês até já fazem...

Thursday, September 28, 2006

Debate

Após uma hora e meia de debate, com o rosto já pálido e o suor escorrendo pela testa, o candidato-presidente sofre golpes cada vez mais duros dos outros concorrentes ao cargo. A trégua ocorre por breves momentos, sempre que seus adversários fazem mímicas uns para os outros desenhando no ar cuecas, vampiros e ambulâncias. Nesses lapsos, seus pensamentos procuram algum consolo nas pesquisas que há poucas horas o faziam se sentir imbatível. Mas o alívio dura pouco e logo a chuva de denúncias, escândalos e cobranças volta com toda a força.

Os demais debatedores chegam a um consenso inédito. Como as regras do debate impedem que se dirija a palavra todas as vezes ao preferido das massas, os candidatos improvisam. Em uma aliança impensável, eles começam a perguntar uns aos outros e até a si próprios sobre os escândalos envolvendo o presidente e seus asseclas.

O candidato está cada vez mais tenso, sua argumentação é nervosa. O português, sempre derrotado por ele, desta vez se nega a entrar no ringue. O arrependimento é um adversário ainda mais ferrenho e bate com força inédita. Ele lembra da preparação árdua ocorrida logo após o jantar desta noite e pensa que poderia ter antecipado, talvez para antes da deliciosa feijoada, o encontro com seus assessores. Pensa que poderia ter deixado de assistir a novela das oito pelo menos hoje ou que deveria ter aproveitado os comerciais para repassar rapidamente as instruções valiosas de seus assistentes.

Como o chefe da nação se limita a dizer que não sabia dos movimentos escusos de sua equipe, seus oponentes passam a apelar. Eles não se limitam mais a apenas perguntar, mas também começam a responder pelo seu alvo. Dentre eles, um se destaca pela excelente interpretação, tirando do bolso uma barba postiça e fazendo analogias medíocres entre o trabalho de um gandula e a compra do avião presidencial.

A audiência vai às alturas. Cientes do fato, os debatedores passam a silenciar na hora de fazer perguntas ao pai dos pobres. Apenas esperam o tempo passar e perguntam a outro candidato, que prontamente se faz passar pelo presidente. Após duas rodadas de perguntas, sem pronunciar uma palavra, já com todos os demais utilizando barbas postiças, o dono da única barba legítima lança sua última investida. Observando o sucesso das imitações feitas por seus adversários, ele olha de maneira comovente para os céus e afirma que assim como Cristo, estava sendo traído e crucificado injustamente.

O silêncio é geral, não pela declaração absurda, mas pela aparição súbita de um metalúrgico muito semelhante ao próprio presidente, porém com um rosto vinte anos mais jovem. Com muita calma, o presidente se levanta, dá um singelo beijo no rosto do sósia e sai de cena. Os debatedores estão nervosos. A palavra está com o metalúrgico.

Monday, September 18, 2006

Big Brother Brasil - Um direito do cidadão

Dia desses estava assistindo a TV e fui surpreendido pelo comercial da abertura das inscrições para o Big Brother Brasil 2007. Confesso que gostaria de participar e inclusive já me inscrevi algumas vezes, porque gosto de aparecer e, como todo bom canceriano, tenho uma necessidade quase que doentia de fazer as pessoas gostarem de mim (goste eu delas ou não). Mas não é exatamente sobre esse meu lado afetivamente dependente que eu quero falar aqui.

Acima de tudo, considero o BBB um fenômeno socialmente interessante por dois movimentos complementares: um partindo do programa e outro do público.

O programa mostra como o ser humano se comporta diante de uma situação hostil, na qual se vê confinado junto a pessoas a quem não conhece, em ambiente de extrema competição. Essa proposta, somada à grande exposição torna ainda mais complexo o processo de julgamento de características fundamentais na formação do relacionamento, principalmente ligados à sinceridade das intenções. O período de confinamento, os interesses individuais e o choque entre sub-grupos existentes e, é claro, as câmeras se encarregam de mostrar a o clima de hostilidade latente que impera por detrás dos corpos sarados e amizades de uma semana.

Do outro lado, expõe uma característica marcante do povo brasileiro: o gosto por fofoca. Vagabundo gosta de um fuxico, gosta de ver fulano falando mal de beltrano, gosta de criar heróis e de ter o poder de condenar vilões. Se solidariza quando Mariana é chutada por Saúllo e se emociona quando ela finalmente cai nos braços do retardado do Rafael. Neguinho não está nem aí se ela é mulher de maladro e volta pro cara de que a corneou descaradamente na frente e milhões de brasileiros - afinal, isso não tem a menor importância, uma vez que o programa já acabou, né não? Jornal Nacional que é bom mesmo, neca.

Diante disso, assumo meu dever cívico e levanto uma idéia que pode se reverter numa contribuição à sociedade brasileira: proponho que as próximas eleições sigam o formato Big Brother Tabajara. O horário eleitoral gratuito já é um circo, de pouca popularidade (é importante que se diga isso) neste país, então é hora de rever e sofisticar a sua fórmula.

Funcionaria da seguinte maneira: todos os presidenciáveis conviveriam entre si, sem qualquer influência externa (ou seja, nada de marketeiros), confinados num barraco quarto e sala num morro carioca de grande movimento. Nesse clima de "Isso aqui ô ô, é um pouquinho de Brasil ia iá" a eleição seguiria o modelo do programa global. Semanalmente, dois candidatos iriam para o paredão, um indicado pelo líder e o outro, pela casa (neste momento, as alianças políticas seriam de grande valor) e sendo eliminados pelo público. Em dia de votação, os candidatos teriam direito a 5 minutos no confessionário para expor suas propostas e convencer o povo de que ele não são os falcatruas que certamente estarão mostrando ser ao longo de sua trajetória observada.

A final seria composta por 3 candidatos e teria transmissão de Pedro Bial, direto do tal do caminhão, na última parada da Caravana JN.

Fala aí... nessas eleições até você iria votar. Está certo que, as Grazis, Marianas, Antonellas e similares não infláveis, dariam lugar à Heloísa Helena, mas porra, ia ser no mínimo interessante acompanhar quantos dias a esquerdista radical levaria para segurar uma abstinência de Coca-Cola (Yankees, go home!!!). Isso eu tenho certeza que mobilizaria o povo, que passaria até a discutir propostas presidenciais nas ruas. E daí que nesse clima a exposição das propostas ficaria prejudicada? E daí que as propostas teriam que ser improvisadas? Faz mesmo tanta diferença assim?

Se liga, Boninho!!!