Monday, December 04, 2006

Ciúme de si mesmo

Uma amiga minha tem um namorado bem ciumento. Mas desses sujeitos ciumentos mesmo, que faz a expressão “ter ciúmes da própria sombra” não ser bem uma metáfora.

Ela começou a perceber que a coisa era séria quando estavam em uma festa e ele insistiu que ela fosse até um espelho arrumar o cabelo só para que ele pudesse fazer suas necessidades tranqüilamente, sem a preocupação de deixá-la sozinha na pista. Nem o argumento de que ela estaria dançando com uma amiga dele serviu – afinal de contas, quem disse que ela não topava meninos e meninas?

Se conversavam em um restaurante e seus olhos desviavam, acompanhando algum vulto que se movia atrás do namorado, ele deferia: “o que foi? Gostou do cara de blusa listrada? Vai lá com ele, então.” Se comentava que havia ido à praia com alguma amiga, o tempo logo fechava. Sem perceber, numa acelerada, ela já estava em frente ao portão de seu prédio, ele com um clima “sem comentários”. No dia seguinte, tudo parecia normal.

Minha amiga, que não compreendia muito essas demonstrações de ciúmes, oscilava entre achar romântico, até bonitinho, e sentir-se objeto de depósito da patologia alheia – que há muito havia saído do controle. A última que ela me contou chega a envolver com sua lógica toda particular.

Estavam os dois no maior clima de amor, quando ele pede que ela não dê “mole” para mais ninguém. Ela, como que pisando em terreno minado – coisa que habituou a fazer desde que ficaram juntos –, perguntou genuinamente para quem ela havia “dado mole”. Ele, na lata: “para mim”. Aqui convém reproduzir o diálogo.

- Eu não dei mole para você!
- Ah, não? Veio me perguntar sobre seu mapa-astral na festa em que a gente se conheceu, fiquei até sem graça.
- Eu não “dei mole”, só estava conversando, normal.
- Ah, aquilo é o seu normal?
- Você é astrólogo, não podia conversar com você e perguntar sobre meu mapa-astral?
- Você não me conhecia! Por que conversar com um cara se não tava dando mole?
- Porque tinham me dito que você era legal e eu nunca entendi direito essa história de ascendente... O que é mesmo? É o que eu vim buscar no mundo, não é isso?
- Não muda de assunto não. Você deu mole pro cara!
- Que cara? Era você!
- Ah, então deu mole, né? Assumiu! (como se a tivesse pego em flagrante)
- Já disse que não queria nada com você, gosto de conversar com as pessoas.
- Quer dizer que você conversa daquele jeito com qualquer um? Bom saber...
- Tá bom, eu tinha te achado interessante, mas não queria nada contigo ainda. Só queria...
- Saber da sua casa 8 em Júpiter, né? Já sei, eu lembro do seu mapa.
- Era contigo que eu tava conversando, qual é o problema?
- Era comigo, mas podia não ter sido. Você não conhecia o cara e tava dando o maior mole para ele! (realmente irritado)
- Mas era você!
- Não era não. Não ainda. Era um cara qualquer.

Será que o problema era imaginar a mulher amada tomando a iniciativa em relação a uma pessoa qualquer, ou será que Groucho Marx e Woody Allen tinham razão? Será que o ciúme do namorado de minha amiga residia na falta de crença em um clube que aceitasse ele próprio como sócio? Vai entender...

3 comments:

Anonymous said...

Não é possível que isso seja verdade... que medo!

Anonymous said...

diálogo hilááário!

Blaithin De Bríd said...

HAHAHAHA,ADOREI!