Sunday, July 29, 2007

Mais uma inversão de valores

Provavelmente você já assistiu, já viu ou ouvir falar do ‘E! Entretenimento’, um canal de TV voltado para quem gosta de celebridades americanas ou ver mulher se expor vulgarmente ao ridículo. Se não viu, não está perdendo nada, a não ser saber quaisquer coisas (das mais idiotas até as mais estúpidas) sobre celebridades e ver um monte de gente mostrando peitos e genitais em “festas” que a programação filma mundo afora como sendo “as melhores do mundo” (imagine qual é “a melhor festa do mundo” aqui no Brasil).

Bom, se já viu, vai entender o que quero dizer sobre a programação diurna inútil, e a programação noturna imprópria, principalmente para um canal chamado “entretenimento”.

Acredito que tenham um bom ibope mostrando as celebridades como seres humanos ou até como pessoas normais, também acredito que os programas de fofocas sobre artistas, atores e similares lhes rendam bons ganhos com os anúncios, pois todos sabemos quão grande é o interesse das pessoas pelas vidas dos seus artistas preferidos, uma boa parte ávida não só por saber mas também para ter aquele gostinho de estar mais próximo do ídolo. Mas o que não dá para entender é : por que passar (e muitas vezes em horários impróprios) festas no mundo todo, com relatos de pessoas completamente desconhecidas que as classificam como “a melhor festa, ou a mais badalada do planeta”, mesmo quando todas, indistintamente, mostram sempre: mulheres mostrando os seios ou se beijando – já vi pênis de vários tamanhos e cor também - regadas a muita bebida, muita esfregação e cujo único intuito é sexo livre e com qualquer um, numa libertinagem sem tamanho. É a mesma coisa todas as noites, algumas vezes passa à tarde também: close em peitos, em bundas, homens dançando pelados, algumas garotas gritando “essa é a melhor festa do mundo”, outras se lambendo, homens se esfregando em algumas alcoolizadas, mais peitos aparecendo e alguns homens relatando que “não há melhor festa que essa em qualquer outro lugar do mundo”. Só que no dia seguinte, esse programa está em outro país, numa outra festa, mostrando exatamente a mesma coisa, quando não pior.

E eu me pergunto como é que uma coisa assim pode dar ipobe a ponto de ter essa programação todas às noites, muitas vezes de dia também?

Será que existem tantas pessoas com vidas tão medíocres, insignificantes, banais e desprezíveis que sentem tesão só de olhar genitais e peitos? Seria uma curiosidade dos mais velhos – aqueles aposentados e inúteis que não têm mais o que fazer - que querem saber como são as festas hoje? Será que é a tendência atual e eu sou uma velha rabugenta e moralista que não vê a necessidade, em uma festa, da mulher se colocar como um objeto de prazer, se portando sem um pingo de auto-estima e de forma tão mundana? Ou sempre foi assim, só que não televisionado, e eu, por estar num circulo mais pobre – onde divertimento em festa consistia em dançar, estar com amigos e no máximo ficar com alguém – jamais freqüentei festas dos quais o intento é sexo, cujo entretenimento está voltado unicamente para a promiscuidade?

Não acredito que isso possa ser uma normalidade, apesar de já ter freqüentado e muito a noite e conhecer bem pessoas que iam e até hoje vão a festas como caçadoras vorazes, selvagens que sem afeto, buscavam no sexo algum conforto, uma noite a menos de solidão. Mas nenhuma delas, nem nos piores inferninhos que freqüentei, com qualquer um que eu tenha saído e conhecido e ficado, expôs sua nudez como oferenda ao primeiro que chegasse, diferente de hoje, e nessas festas do ‘E! Entretenimento’. Uma pena.

Friday, July 27, 2007

Breve história da emetevê, como diria o amigo do ministro

Após anos no ar, a MTV desenvolveu um idioma televisivo muito peculiar. Foi a famosa linguagem videoclipe, feita de muitos cortes, tomadas rápidas, com imagens por vezes desconexas e aparentemente sem sentido. Funciona. Ajuda a distrair. Você ao mesmo tempo está assistindo algo, sem precisar sequer de dois neurônios para entender coisa alguma.

Parece também uma máquina do tempo. Na verdade, deveriam colocar televisões sintonizadas na MTV em repartições públicas, alguns bancos e, claro, aeroportos. Se bem que MTV há muito tempo deixou de ser sinônimo de música, quanto mais videoclipe.

Claro que esse processo não é algo tão simples assim. Cada célula do corpo, em estado de hipnose, se comporta como criança diante do corredor dos brinquedos. Tudo atiça desejos, uma verdadeira suruba platônica. Quem assiste, deseja. Quem é assistido, provoca. O máximo que pode.

Mas essa estratégia poderosa não foi suficiente. Vez por outra, algum revolucionário colocava um clipe da Legião Urbana ou quem sabe até um Neil Young no meio da programação. E algumas jovens mentes em gestação se perdiam. Então criaram os programetes. De início curtos, logo invadiram o restante da grade de atrações. Os cortes confusos e psicodélicos continuaram, dessa vez sem letra, sem música, apenas como intervalos para os intervalos comerciais.

Por mais estúpidas e cansativas que fossem, as atrações dominantes não enfrentaram contestações. Pelo contrário, a MTV planeja oficialmente extinguir os videoclipes. Zero riscos de qualquer infusão de pensamentos ameaçadores. Muita informação, nenhum conhecimento. Cortes a todo o tempo, nos intervalos de encenações patéticas, tendo como fundo a estupidez humana. A realidade é o Big Brother perfeito para a MTV.

Monday, July 23, 2007

Ora, e as passagens aéreas ainda vão subir.

Como se não bastasse medalhas jogadas ao leu, as passagens irão subir.

E os aeroportos estão lotados, filas descomunais; cansaço e comodismo mesclado nos rostos, o cheiro de impaciência misturado ao “bovinismo” característico do povo brasileiro, acostumado a ver pacificamente mais desastres, mais gente morrendo e... continuar na fila para pegar seu vôo. “Convenhamos, ir de avião é bem melhor”.

O governo garante: os preços vão subir e todo transtorno é válido, e é feito pela segurança aérea. Esquece-se que o avião da TAM já estava no chão. O problema não é nas alturas, é aqui, em terra, com gente que possivelmente nunca soltou pipa algum dia.

Mas quem vai dar o braço a torcer, e para que fazer algo? Descaso do governo, nossa mansidão vendo tantas omissões, a dor estampada na TV, o menosprezo ao ser humano, avareza das empresas, corrupção. Vemos isso em todos os setores, porque seria diferente agora? A fila continua, a fila anda.

Passivo de colocarem a culpa no piloto, também na repimboca da parafuseta do avião, ou simplesmente não responder nada para ninguém, como fizeram com o ultimo desastre que envolveu o Legacy – coitados dos americanos. Não há quem cobre, não há o que fazer.

Não importa, morreram mais de 150 ano passado, mais 200 agora, até ACM morreu, nada será feito para melhorar o esquema aéreo no Brasil assim como nada consegue tirar Calheiros do Senado. É muito dinheiro envolvido, muita gente envolvida e o pouco caso das pessoas, tanto como eleitores como passageiros. Pessoas que, no máximo, conseguem soltar uns gritos quando a câmera da Globo passa e pronto, já fez seu brilhante papel de mostrar seu ultraje.

Não quero falar e nem imaginar a dor dos que ficaram desse caos todo, não existe isso. Mas quero registrar que por um bom tempo eu não vou pegar avião algum e recomendo aqueles que forçosamente não precisam "plainar", que também o façam, pois quem sabe: sem fila, alguma coisa mude.

Thursday, July 19, 2007

Tempo pra tudo

É preciso uns 144 anos para se escrever uma trajetória de vida.
A cara de avô chega aos 70.
Com 65 (se você for homem) ou 60 (se você for mulher) é possível concluir uma vida profissional.
Aos 40, tem início uma fase que, na imensa maioria dos casos, dificilmente se sai vivo.
Em 30 anos, você já está pronto para ser pai (é assim que eu vejo, pelo menos), mas isso varia muito.
Na casa dos vinte, geralmente, vem o diploma.
Com 21, o torcedor do Botafogo comemora um título.
Com 18 se tira carteira de motorista e é possível entrar em qualquer night que role por aí (uhul!).
Dezesseis é a idade média para a perda da virgindade.
Com 15, a menina debuta.
Foram necessários 12 anos para Lula fazer a barba decentemente
Em 10 anos você já acha que é gente.
É preciso 8 anos de mandato para empurrar várias paradas com a barriga.
A cada 4 tem copa do mundo.
Dois anos depois, tem Olimpíadas.
Não foi preciso nem 1 ano para o brasileiro se dar conta de que a "esperança" não ia dar em nada.
Leva 9 meses para se conceber uma nova vida e toda uma trajetória para se criar um filho.
Em 8 meses se faz um brasileirão.
Em 6 se conclui um período universitário.
5 meses o brasileiro trabalha só para pagar impostos.
Em 1 mês se planeja uma viagem.
Na situação atual, leva-se 2 horas no check in do aeroporto.
Uma hora e meia de Porto Alegre a São Paulo.
Por minutos (de sorte) você pode perder um vôo.
Em alguns segundos de completo desespero você se dá conta de o fim é inevitável.
Um piscar de olhos é o suficiente para que toda uma vida seja revista por inteiro diante de 186 pares olhos.
Num único e incontável instante, o colorido se torna preto.

Porém não há tempo que cicatrize a dor da perda de um ente querido em um acidente estúpido, nem a revolta porque em aproximadamente um ano nossas autoridades não tomaram qualquer providência realmente efetiva quanto ao caos aéreo que se estabeleceu neste país, desde que o Legacy colidiu com o vôo Gol 1907. E toda essa negligência é resultado da mentalidade dos nossos políticos, que passam todo seu mandato ocupados em bolar estratégias de como aumentar seus salários, como obterem vantagens, incrementar seus patrimônios, fazer lobby e montarem esquemas para defenderem a si mesmos, quando um eventual escândalo vem à tona.

Quanto tempo mais vamos assistir impassíveis espetáculos como este?