Thursday, December 07, 2006

Algo muito pessoal

Eu juro que o tema de hoje seria outro, o tema estava borbulhando na minha cabeça, cheio de tiradas bacanas e piadas engraçadinhas - pretensioso eu, não acha? - mas não deu. Todo o meu plano de falar tratar com deboches e chistes a futilidade alheia, que marca a total superficialidade que marca o mundo de hoje foi por água abaixo no momento que eu decidi ouvir aquela música, aquela banda.

“There's an old pair of sneakers dangling from a wire
And my old rusty engine is in need of some brand new tires”


Acho interessante a relação que as pessoas mantém com a música. Tudo é muito individual, cada um tem a sua vida, o seu agora ou nunca e dá o valor que acha justo – o que, na verdade, torna qualquer discussão sobre qualidade musical algo estúpido e egocentrista, que no final das contas, termina no “ah... mas eu gosto disso e não gosto daquilo.”

“There's a warm breeze that's blowing as the shadows go tumbling by
And it's picking up sand, and that must be what's in my eye”


Muita gente curte música só pra dançar e se deixar levar pelo ritmo, não se apegando tanto à músicos, letras e mesmo às próprias músicas. Para essas pessoas, música é momento, é feita para divertir, é poeira ao vento. Outros tantos, a avaliam pela poesia, pela profundidade do que ela transmite enquanto mensagem numa garrafa e mesmo pela forma como expressa em palavras e em som (em menor grau) um sentimento individual, que, supõe-se, tem a mesma natureza do que elas sentem quando a ouvem.

“Forever young. Time on my side. We’ve got tomorrow. We’ve got tonight
Two hungry hearts out on the run, we'll always be forever young”


Apesar de ser influenciado por ritmos, poesia e por estilos, minha relação com a música, tem uma outra natureza. Me relaciono com a música pelo que ela representa para mim, enquanto parte da minha própria história. Mais do que combinações de sons e palavras, que podem ou não dizer alguma coisa, as músicas, as minhas músicas me aproximam e reavivem na minha memória e na minha alma momentos que vivi. São pequenos frascos de realidade vivida que me dão em doses leves e breves o direito de reviver antigas sensações que estavam guardadas em alguma num canto escuro, úmido e cheio de traças da minha essência e que o tumulto do dia a dia acaba por zipar.

“If I only had the wings to fly, leave the chains of love below
Take my heart up in the sky, I would never let you go”


Com algumas, revivo os dias gloriosos em que conheci Tatiana. Outras me trazem cenas de Paula e Danielle dançando nas noites de sábado. Algumas bem específicas – e que, confesso, não seriam da minha discografia se não representassem tanto – me retiram da poltrona num dia de domingo e me recolocam no carro da bichona do André, com Alexandre, Dudu, Godinho, Marina, Dani, Maíra, Wawá, Christiano e tantos outros escroques que dividiram comigo aqueles dias que nossos pais diziam que seriam os melhores de nossas vidas. Juninho e a parceria que nos fez irmãos, se não se sangue, mas de histórias e afinidades. Histórias que trazem Gustavo e Emir e a irmandade tão firme e segura quando o curso de um rio. Yoko e momentos em que éramos próximos como jamais fomos novamente. Shows de Fábio com a Orion, de Ramon com a Homo Sapiens ou ao lado de Andrei e os The Feitos.

“No more people to hold me down, fight the ghost in my home town
All the walls will crumble down”


Canções que conduziram as minhas mais remotas lembranças, que me fazem voltar à minha infância e reviver os dias que era apenas um menino superprotegido pelos meus pais, que rezava para o trovão e para a chuva serem silenciosos e me deixarem em paz. Uma criança sem tantas responsabilidades, com o conforto, segurança e amor que um dia quero poder dar para os meus filhos. As galeras do colégio, da rua, as festas, as viagens e tanta gente foda...

“My head says, we should always go our own ways, never get too close
When she can hear my heart, if she comes apart, I'll be waiting”


Momentos sozinho, deitado no meu quarto escuro, com a janela aberta, a brisa batendo e só as luzes da rua iluminando as paredes. Pensando na vida, me preparando para algo importante, lembrando de coisas, viajando em pensamentos, passando por mudanças, esvaziando a cabeça, curtindo fossa, tendo idéias, curtindo momentos, acreditando, mantendo a fé, me partindo em pedaços, amaldiçoando ocasiões em que parece que mesmo seus amigos parecem estar lá para te ferir, planejando o futuro, idealizando relações, fantasiando namoros, desenhando abordagens, remoendo angústias e amores desperdiçados numa carência desesperada, dando vazão às tristezas, deixando fluir, curtindo conquistas ou simplesmente ouvindo música. No ônibus, no carro, na fazenda, na night, no clube ou no mais amplo espaço que uma pessoa pode residir, um espaço sem fronteiras, onde as ruas não têm nome e que reside na imensidão dos meus pensamentos.

“And sail away, we may not ever be coming back this way
Sail away, another place to be, another day”

É bem verdade aquele postulado da filosofia que diz que tudo que sei é que nada sei. Tão verdadeiro é a sua derivação, que diz que um indivíduo tem um conhecimento muito pequeno de si mesmo. Eu concordo. Me conheço muito pouco. Mas é através da música e das lembranças que elas trazem à tona que me aproximo de quem sou e de me definir. Não com palavras, mas com puras sensações. E quem precisa de palavras numa hora dessas?

3 comments:

R3 said...

Caro padrinho:
Eu sei que o mundo da semântica é plural. Infelizmente uma grande parte das pessoas (uns 60% e não 99%) não sabe qual é o domínio de validade de uma analogia e passam a aplicá-la para "compreender" todas as dimensões do problema original representado por ela. Meu manifesto foi apenas para coibir essa atitude indiscriminada quanto aos queridos números.
Alguns (uns 20%) dos matemáticos são sim capazes de enxergar muitas possibilidades semânticas por trás de uma expressão como essa, mas são prudentes o suficiente para desestimular a aplicação dela a torto e a direito como em:
99% dos policiais são corruptos
99% dos políticos são desonestos.
Essas estimativas não representam bem a verdade. Mas se tornam lugar-comum, e aquele sujeito consciente da pluralidade semântica, contamina muitos que tentarão levá-la ao pé da letra.

Anonymous said...

oiiiiiiiiii....
pois é..música é tudo.representa a lembrança de momentos mts especias ao longo da vida..
Saudades de vcs...
Bejios

Anonymous said...

Graaaaaaaaaande, Leo!
Matou a pau! Excelente esse post! Parabéns! manu