Wednesday, December 13, 2006

A limonada

Tem dias em que a vida realmente apresenta as surpresas mais variadas para a gente.
Terça-feira da semana passada, à tarde, eu me vi em uma situação tão incomum, que fiquei pensando no quanto é imprevisível o dia de amanhã.

Estávamos eu e uma colega no aeroporto, prontas para pegar um vôo para São Paulo às 13 horas. Estávamos indo para tentar agilizar um trabalho gigantesco, cujo prazo já estava se esgotando. Ou seja, uma operação emergencial. Só que nenhuma das duas imaginava que justo aquele dia, uma terça-feira comum, sem nada de especial, seria o pior dia da crise dos aeroportos até então.

Passamos nada menos do que 3 horas e 15 minutos dentro de um avião estacionado no pátio, até nos darmos conta de que aquele vôo - e nenhum outro - sairia do aeroporto naquele dia. Decidirmos então abandonar nossa missão, voltar para a agência e partir para o "Plano B". Mas o atraso em si não foi o que fez a diferença no nosso dia. Foi o que nós fizemos com esse tempo livre "compulsório" dentro do avião.

Poderíamos ter deixado a ansiedade e o stress nos enlouquecerem, poderíamos ter ficado histéricas, mandado as aeromoças enfiarem os copinhos de suco de laranja você-sabe-onde, tentado enforcar o piloto - já que ele abriu a cabine à visitação. Mas ao invés disso, nós resolvemos pegar os limões daquele dia e fazer uma limonada. Usamos aquelas três horas e quinze minutos para olhar com calma e assinalar alterações no trabalho sem ninguém atrapalhar, sem telefone tocando.

Conversamos sobre nossas vidas, sobre o que gostávamos e odiávamos, sobre as relações no trabalho, sobre detalhes bobos de nossas personalidades. E, entre uma comunicação e outra do piloto sobre o atraso, ficamos refletindo sobre o quanto era inusitado almoçarmos dentro de um avião, em terra. Isso nunca mais vai acontecer. Foi um evento único. E eventos únicos, sejam eles bons ou ruins, sempre trazem algum aprendizado. No mínimo viram histórias para a gente contar para os outros depois.

Se não tivéssemos passado essa tarde no avião, por exemplo, talvez nunca tivéssemos tido a oportunidade de trabalhar juntas tão tranqüilamente e nem de conversar amenidades que nos tornariam mais próximas, como aconteceu. Nunca saberíamos que existe um tal de "avião-laboratório", que sobrevoa a região para testar se as freqüências estão funcionando em caso de panes como essa do Cindacta de Brasília. Ou presenciar o chamado "vôo de misericórdia", de um avião que transportava órgãos vitais para transplante em São Paulo e que teve uma tripulação corajosa o suficiente para decolar antes de o "avião-laboratório" dizer se era seguro ou não.

Nada disso irá se repetir nas nossas vidas e, neste caso específico, não aconteceu nada de tão fantástico que merecesse uma repetição. Mas foi um momento significativo a ponto de nos fazer pensar sobre o quanto o nosso repertório mental e emocional pode se expandir e se converter em crescimento pessoal se estivermos abertos a extrair o valor de cada momento, mesmo que pareça um momento banal e estúpido como um atraso de avião.

Foto: criançada fazendo sua própria" limonadinha" na cabine do piloto, que estava aberta à visitação. Eu também fui lá fazer a minha, hehehe...

No comments: