Tuesday, November 14, 2006

Quarenta quilos

Quarenta quilos distribuídos em um metro e 74 centímetros de altura. Este era o ideal de beleza de Ana Carolina Reston, de 21 anos, morta nesta terça-feira por inanição. Sim, você leu certo, a modelo paulista morreu de fome. Há poucos dias, Carol ainda desfilava sua beleza quase fúnebre pelas passarelas do mundo inteiro. Países como China, Turquia e Japão, por exemplo, eram o palco de seus elegantes passos. No entanto, apesar das andanças internacionais de Ana Carolina, o Brasil foi o altar onde o mundo da moda a imolou como um aviso das exigências para a temporada 2007.

O Brasil é uma potência na exportação de beleza, a maioria das top-models da atualidade é daqui. A profissão começa cedo, é comum meninas de 13 ou até 12 anos já desfilando e aprendendo a fechar a boca para se enquadrar nos rigorosos parâmetros do meio. O que começa com dietas malucas acaba se tornando uma negação permanente em se deliciar com qualquer alimento que seja. A partir de certo ponto, a pessoa passa a sentir aversão à comida, inclusive, vomitando o pouco que consegue consumir.

Ana Carolina se achava feia pelas supostas gordurinhas que teria a mais. A questão não é se havia gordurinhas a mais, nem se a modelo sofria de algum distúrbio (com certeza, sofria). Muita gente vai dizer (sem qualquer senso de sensibilidade) que faltaram umas boas palmadas. Tolice. Realmente falta disciplinar nossas crianças, mas não só elas.

É hora de ensinar e aprender o significado da fome, nem que seja de maneira infantil e simplória. Passar fome é feio, é horrível. Morrer de fome é inaceitável, é desumano. Talvez assim a feiúra da fome, presente nos traços de um rosto perfeito no outdoor da esquina ou no braço esquelético do menino de rua que nos pede um trocado na mesma esquina, deixará de ser algo normal e até belo para os brasileiros.

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