Tuesday, November 07, 2006

Tudo ou nada

Em reportagem da semana passada, a revista Veja declarou a morte do rock. Claro que isso é dito há algumas décadas, a cada vez que alguma modinha musical ganha algum destaque.

Mas sou obrigado a concordar. Após ter heróis da estirpe de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jonh Lennon correndo em suas veias, o rock foi envenenado pela multiplicidade de organismos estranhos em sua corrente sanguínea. Toda tralha sonora é chamada de rock nesses dias carentes de harmonia e repletos de barulho.

Rock não pode jamais ser tudo, como muitos costumam acreditar. Suas bases foram construídas sobre o nada. Quando nada mais restava, quando a família não dava a mínima, quando a humilhação era rotina na escola ou quando nenhuma mulher notava sua existência, um garoto maluco juntava um bando de infelizes e descarregava sua frustração em canções geniais.

O coração vazio de cada um daqueles doidos se tranformava na caixa onde ressonavam melodias vigorosas, com letras que falavam o que não podia ser dito. E nós éramos abançoados. Nada era melhor do que se encerrar no quarto e ouvir aquele nada em estado bruto encher nosso espírito, fazendo nosso traseiro deixar a cama e viver ao estilo mais rock'n'roll que poderia haver.

As coisas agora são mais simples, a rebeldia não é mais exclusividade dos astros. Qualquer guri ou guria se expressa com rebeldia, já começando pelo desafio aos próprios olhos, sempre tapados pela cabeleira lambida que cobre quase a cara toda. As marcas dessa geração são feitas na pele, já que deixar marcas na vida é algo fora de cogitação. A profundidade de pensamento e os questionamentos dizem respeito apenas à escolha da roupa mais provocante, do celular mais entupido de funções ou do barzinho mais "in" da cidade.

Acompanhando essa rebeldia com código de barras, as bandas vão e vêm, preservando o ar derrotista que sopra desde o último suspiro de Kurt Cobain. Recentemente, pra piorar, o tal Emo se manifestou como uma praga, mas o veneno contra ele foi absorvido pelas gravadoras e pelos adolescentes cada vez mais bundões de hoje.

Pensar no que o rock significou um dia para mim não faz mais qualquer sentido, me rendi ao novo rock. Na era em que o rock é tudo, ou tudo é rock, tudo que o rock de hoje faz é me manter assim, sem fazer nada. Não poderia haver atestado de óbito maior.

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