Wednesday, November 01, 2006

Transtorno de quê???

A cada dia que passa, os cientistas especializados em transtornos psiquiátricos apresentam novos nomes para definir os mais estranhos comportamentos dos seres humanos. Não importa classe social, sexo, raça, idade, nada. Qualquer comportamento esquisito, fora dos padrões e – principalmente – repetitivo pode vir a enquadrar você, caro leitor do Boca, como portador de uma síndrome bizarra.

Só para ilustrar alguns comportamentos que se converteram em síndromes e transtornos nos últimos tempos, vamos citar alguns exemplos: aquele pirralho malcriado, mimado, sem-educação, verdadeiro projeto de vândalo, mas com inteligência suficiente para fazer pais e professores de trouxas pode acabar sendo classificado como portador de Distúrbio de Déficit de Atenção ou portador de Distúrbio de Hiperatividade. E ele pode mesmo sofrer desses distúrbios, claro!... Ou ser simplesmente uma peste de temperamento diabólico cujos pais terão a felicidade de poder socar tranqüilizantes e antidepressivos sem se sentirem culpados.

Aquela guria chata, cheia de manias, supersticiosa, medrosa e de imaginação fértil na verdade pode ser portadora de Transtorno Obsessivo-Compulsivo... ou pode ser simplesmente uma pentelha histérica e carente que encontrou uma ótima desculpa para ter que ser aturada pela família e pelos amigos sem questionamentos.

Mas o mais novo transtorno psiquiátrico revelado pelos cientistas, e que eu descobri lendo uma matéria no blog da revista Cláudia na semana passada, sem dúvida é o mais incrível de todos: a "feiúra imaginária".

A "feiúra imaginária", cujo nome científico é TDC – Transtorno Dismórfico Corporal – é um distúrbio que faz a pessoa enxergar no próprio corpo defeitos que não existem. Isso cria uma compulsão por cirurgias plásticas que, mesmo feitas repetidamente, nunca satisfazem as expectativas dos portadores de TDC. Logicamente, as mulheres são as maiores vítimas dessa moléstia psíquica.

Bizarro ou não, o fato é que esses distúrbios, transtornos ou síndromes nascem de comportamentos inocentes do dia-a-dia. Uma pequena mania, se reforçada, pode ir ganhando corpo até virar um monstro que descontrola toda a química cerebral e faz com que qualquer pessoa comum se transforme num Michael Jackson da vida. Ainda mais no Brasil, onde entrar na faca para caber num jeans 36 ou num sutiã 52 se transformou num procedimento banal e quase que obrigatório para as mulheres.

É por essas e outras, caro leitor do Boca, que é melhor não se importar tanto com seus pneus, sua muxibinhas, seu nariz de porquinho, sua corcunda, sua bunda murcha, suas verrugas, suas celulites, suas carecas lustrosas. Se preocupar demais com essas coisas pode acabar levando você a ficar maluco de verdade, tomando remédio e carregando um rótulo mais esquisito do que qualquer suposto defeito que o seu corpo tenha.

Michael Jackson que o diga!

3 comments:

Anonymous said...

Me preocupar em ficar careca só me fez ficar careca.

Sensacional o post, Quel. Aliás, você e o Rafa fizeram posts de altíssimo nível!!

cherrytati said...

Olha, eu acho que os transtornos não são invenções, mas são conseqüência dessa vida sem freios que levamos. São também um consolo pra quem não anda se sentindo bem e encontra um nome para o mal-estar. O ruim é quando um transtorno desses vira moda - como o TOC - e aí as pessoas começam a achar legal dizer "ah, eu tenho TOC".

Blaithin De Bríd said...

Pois é, Tati. Você pegou justamente no ponto crítico da coisa. Os transtornos existem sim. E é muito bom que a ciência esteja estudando-os e, com isso, ajudando as pessoas que sofrem REALMENTE com eles.

Mas é fato que a coisa está tão popularizada que se descontrolou. Eu conheço um menino que tem Transtorno Bipolar e Distúrbio do Défcit de Atenção. É um problemaço para os pais. Graças aos avanços da medicina, ele tem podido tomar remédios e agir como um pré-adolescente normal. Por outro lado, vejo toda hora mães de meninos levados, super-saudáveis, rotulando os pobrezinhos de DDA só pra poder justificar alguma molecagem deles ou simplesmente ter uma desculpa para poder dar os remédios e fazer com que eles se aquietem. É uma pena!