Wednesday, June 20, 2007

Nada Demais

O mundo de hoje é capaz de coisas espetaculares, nunca antes imaginadas. Não sei se é uma questão de avanço da ciência e do pensamento, trazendo a reboque a conseqüente evolução da sociedade, ou se este momento é o resultado coerente da linha de desenvolvimento das relações humanas pós-globalização, portanto sem vinculação científica.

Veja você: na semana passada a maior das pequenas patrícias foi presa sob acusação de dirigir com licença vencida. A herdeira da mega rede de hotéis Hilton, dizem, dividindo a cela com presas comuns e privada de utilizar seus cremes hidratantes para pele e camisolas de seda paquistanesa. Após uma série de eventos, que incluíram ataque de nervos, libertação para cumprimento de pena em prisão domiciliar e manifestação virtual popular contrária a tal decisão judicial, Paris Hilton – a Narcisa Tamborindeguy Worldwide - foi reconduzida ao xilindró onde, segundo a jornalista Mariana Sangalo Trevisan, permanece encarcerada sob olhar atento da imprensa internacional e dos policiais que, certamente, esperam mais um de seus acessos, no qual ela escolha um deles para manter relações e novamente jogar na lama o nome da família.

Não se surpreenda se por todo o mundo você encontrar patricinhas desfilando vestidos e terninhos zebrados, assinados por Versacci, Armani, Gucci, Rauph Lauren, dentro desse “novo conceito estético que expressa os tempos atuais, onde é forte o conflito entre o desejo de liberdade e tudo o que deve ser aprisionado para que essa libertação aconteça de forma plena, segundo a pós-modernidade em contexto de hiperglobalização do indivíduo enquanto ser e enquanto todo”. Não se surpreenda também se esses tempos de conectividade, interatividade, capitalismo selvagem e estímulo institucionalizado à invasão de privacidade que deram corpo e sucesso aos reality shows, produza o primeiro programa do gênero que acompanha a vida de uma socialite presidiária e seus dramas de convivência com esse novo universo.

E todo esse esforço, todo esse foco sobre Paris, toda sua legião de fãs e seguidores ao redor do mundo, tudo isso tem uma razão de ser. Só os radicais não vêem que ela é a principal responsável pelo... Ah... Err... Porque ela conduz... bem... porque suas palavras... As jovens seguem sua conduta, ela é um ícone porque, assim como Gisele Bündchen, representa...

É exatamente esse o ponto. Ela representa o nada. Paris Hilton é o principal ícone do vácuo referencial que caracteriza esses pobres tempos - superficiais e marcados pelo signo de uma transitoriedade que impede o estreitar de relações entre o interessado e o objeto de interesse e que, portanto, não promove vínculos ou se aprofunda. Ela é o mito que só figura. Justo por isso, talvez, ela represente, anos depois da morte de Andy Warhol, um motivo de caracterização e representação mais perfeito do que Marilyn conseguiu ser, por ter, por detrás de todo o fenômeno construído, um conteúdo que o justificava. Paris é mais um simulacro do também falecido Jean Baudrillard. Ou seja, Paris Hilton é uma mera gravidez psicológica.

É isso que eu dizia ser o mais espetacular dos dias de hoje: fazer o nada representar tanto.

E na real, eu nem sei por que estou falando nisso.

3 comments:

Anonymous said...

baby, num mundo onde a impunidade é a ordem do momento, uma pessoa como a Paris, que é exatamente o que nasceu para ser, ficar mesmo que por pouco tempo presa, é algo assim, no minimo, "impressionante". Sobre ela ser o vazio com estetica perfeita: se ela não fosse assim, nem julgada seria. Sofreria algumas sanções ou teria que fazer serviços comunitário.

Anonymous said...

Não me esqueci de você e nem sobre escrever para a Boca Maldita, Só não acredito que tenha condições de escrever tão bem quanto você e o Rafa, quanto mais tempo, para ser algo semanal.

Anonymous said...

Tô pronta! Só me avisa como e quando.