Wednesday, June 06, 2007

28

... anos se passaram desde o dia em que a senhora minha mãe estribuchava numa maternidade da Tijuca, fazendo uma força danada para nascer o pequeno estrupício que eu era. Na época, ela sonhava com um futuro próspero para seu rebento. Um fututo sem excessos, mas absolutamente estável e seguro.

Assim, ao longo de toda a minha vida, rolou uma verdadeira campanha de imersão 24h para que, em primeiro lugar, eu estudasse (afinal de contas, o meu conhecimento é o único bem que jamais ninguém pode me tirar), fizesse uma faculdade (federal) e garantisse vaga no funcionalismo público para nunca ter que esquentar a minha cabeça com os famosos passaralhos, característicos da iniciativa privada.

Porém, reconheço, os sonhos e rebeldia da juventude me fizeram seguir as palavras mais repetidas por jovens adolescentes em vias de escolher seu caminho profissional: eu vou trabalhar com algo que me dê prazer, que eu goste, com o qual eu me identifique e que realize meus sonhos. Hoje, formado e trabalhando, me pergunto quem foi o corno que inventou essa bravata?! Provavelmente algum idiota cheio da bufunfa, em uma desocupada tarde de terça-feira, após o seu jogo de gamão com patriarca dos Albuquerque Cavalcanti e Silva.

Hoje, pensando no sentido prático da vida, vejo que prazer a gente busca no sexo. No trabalho, a gente consegue (ou deveria) dinheiro e aí me recordo de outras palavras estúpidas, provavelmente proferidas em primeira mão por um outro playboy cheio da nota: Dinheiro não traz felicidade. Pra quem?! Beleza, até concordo, mas pô... prefiro ser um deprimido rico e cheio de condição para torrar grana em futilidades mil do que um triste pobre, que, além de tudo, tem ainda 28 problemas a mais com o que se preocupar.

Porém o emprego ideal para mim hoje, aquele que eu considero a menina dos meus olhos me foi vetado antes mesmo de eu ter qualquer vestígio de opinião crítica. Eu acredito que o pertencimento ao meio que desejo é conquistado antes mesmo do nascimento, é preciso ter berço, um histórico familiar, uma trajetória marcante, senão você não vence. O sujeito será um estranho e o isolamento é sempre a pior situação que um ser humano pode vivenciar. Então, como fui privado desse direito, só posso projetar essa vida dos meus filhos, começar a montar as condições necessárias para sua chegada e iniciação profissional e torcer para que eles entendam aquilo que eu não entendi. Por isso, já decidi. Vou me separar da minha mulher e ter meus filhos com uma garota de programa.

Assim, meu filho poderá ter um emprego que lhe dará total estabilidade. Que lhe permitirá ter controle sobre seu alto salário, aumentando em pelo menos 28% seu valor quando bem entender. Que cobrirá seus gastos de viagem de férias, em nome de suas funções profissionais. Que não lhe exigirá exclusividade de funções, de modo que ele possa conseguir trabalhos free-lancers no ramo de venda de influência, afinal, é sempre importante incrementar o seu "pobre" orçamento. Que dará abertura para que lobistas paguem as pensões alimentícias de suas futuras ex-esposas e banquem noitadas com prostitutas como um dia fora a sua mãe. E que, por fim, lhe dará imunidade jurídica e contatos fortes para que, em caso de alguma irregularidade, tudo seja jogado para debaixo dos panos do esquecimento e nada da maior gravidade lhe aconteça.

Só sendo muito filho da puta.

2 comments:

Xirua said...

prefiro ser um deprimido rico foi ótima

Anonymous said...

Poxa, gosto demais do que escreve.